Desenvolvimento Mediúnico na Umbanda - Cap. 1: Quem pode ser médium?
Introdução
Era costume, entre as antigas ordens de cavaleiros
medievais, grafar frases de efeito em suas espadas. Uma das mais famosas dizia:
“Não me desembainhar sem razão, não me empunhar sem valor”. Isto é, os
cavaleiros só deviam retirar suas espadas se houvesse uma causa justa e, depois
de retirada, deveriam empunhá-la com muita honra, nunca esquecendo os valores
nobres de um cavaleiro.
Penso que esta frase se aplica perfeitamente à mediunidade
no contexto da Umbanda: jamais devemos utilizá-la sem razão e nunca devemos
esquecer nosso compromisso espiritual, parafraseando.
A mediunidade é, por um lado, um dom divino, pois permite
ao homem o contato com o espiritual, o que deve sempre ser feito de forma
sagrada. Por outro, pode ser entendida como uma conquista do espírito, um
sentido extra, o que não lhe tira também o devido valor.
Seja como for, a mediunidade no contexto da Umbanda é o
carro-chefe da religião, a parte mais importante, pois é através dela que os
médiuns entram em transe e permitem a manifestação de seus guias espirituais
que “descem” à Terra com o propósito de ajudar, aliviar e esclarecer.
Por esta razão escrevo este livro, a fim de compartilhar o
nosso modelo de desenvolvimento mediúnico, construído em parte a partir da
minha própria experiência e, por outra parte, com auxílio e apontamento dos
espíritos, dando origem a um método que pode facilitar o desenvolvimento da
mediunidade aos terreiros que se identificarem com o mesmo.
Não se trata – sem dúvida – de um método perfeito, porém,
ao longo dos anos, tenho compartilhado este método em conversas informais com
pessoas de todo o Brasil que sempre se encantaram com o mesmo e lamentaram que
seus terreiros ainda prefiram um desenvolvimento “caótico” a um estruturado.
Este método não oferece milagres, nem caminhos fáceis.
Contudo, procura sistematizar o desenvolvimento em fases, apontando os pontos
positivos e negativos de cada parte do processo e pode ser igualmente
esclarecedor tanto aos dirigentes quanto aos médiuns novatos.
Enfim, sem pretensão de infalibilidade, ofereço mais um
livro gratuito à comunidade umbandista, com a melhor das intenções. Como todos
os demais, este livro foi escrito de uma forma simples, por uma pessoa simples
e destinado a outras pessoas igualmente simples.
O
autor.
Capítulo 1: Quem pode ser médium?
A mediunidade é um atributo
humano e, por isso, encontrada em todas as culturas, em todas as épocas,
colorida das mais diversas formas ao longo do tempo. É uma possibilidade que
Deus nos concedeu para que não nos sentíssemos tão isolados no imenso cosmos...
Contudo, um real entendimento
desta faculdade só começou a nascer no século XIX, com as publicações de Allan Kardec e apenas no século XX, com a especial contribuição do espírito André Luiz, através de Chico Xavier, é que pudemos, enfim, formar um entendimento
mais profundo desta faculdade humana.
É certo, porém, que tais obras
não tratam de Umbanda. Contudo, não devem ser desprezadas. Se a mediunidade é
uma faculdade humana – e ela é – então, sua manifestação será sempre a mesma,
embora cada religião/movimento/cultura possa interpretá-la de determinada
forma.
Logo, não existe uma
“mediunidade espírita” ou “mediunidade umbandista”, existe apenas a
mediunidade, sendo o Espiritismo ou a Umbanda duas religiões que dão abertura
a ela.
Isto quer dizer que a
incorporação num centro espírita é exatamente o mesmo fenômeno que ocorre num
terreiro de Umbanda e é por isso que um médium espírita pode vir a se tornar
umbandista e vice-versa. É claro que terá de aprender a cultura da nova
religião, porém, mediunidade é mediunidade, independentemente da escola em que
tal médium tenha se desenvolvido.
Porém, efetivamente, quem pode ser médium?
Popularmente, costuma-se dizer
que todos são médiuns. Mas, será isso verdade? Analisemos.
Esta afirmação nasce de uma
interpretação recortada de um determinado trecho de O Livro dos Médiuns, de
Allan Kardec:
“Todo aquele que sente, num
grau qualquer, a influência dos Espíritos é, por esse fato, médium. Essa
faculdade é inerente ao homem; não constitui, portanto, um privilégio
exclusivo. Por isso mesmo, raras são as pessoas que dela não possuam alguns
rudimentos. Pode, pois, dizer-se que todos são, mais ou menos, médiuns”. Item
159.
Você provavelmente já leu esse
trecho em algum lugar. E lendo-o, assim, recortado, tem-se mesmo a impressão de
que Allan Kardec esteja de fato dizendo que todas as pessoas são médiuns.
Porém, este item não termina neste recorte, ele continua:
“Todavia, usualmente, assim só
se qualificam aqueles em quem a faculdade mediúnica se mostra bem caracterizada
e se traduz por efeitos patentes, de certa intensidade, o que então depende de
uma organização mais ou menos sensitiva. É de notar-se, além disso, que essa
faculdade não se revela, da mesma maneira, em todos. Geralmente, os médiuns têm
uma aptidão especial para os fenômenos desta, ou daquela ordem, donde resulta
que formam tantas variedades, quantas são as espécies de manifestações. As
principais são: a dos médiuns de efeitos físicos; a dos médiuns sensitivos, ou
impressionáveis; a dos audientes; a dos videntes; a dos sonambúlicos; a dos
curadores; a dos pneumatógrafos; a dos escreventes, ou psicógrafos”.
Nesta segunda parte, Kardec
afirma que, usualmente, isto é, na prática, os médiuns são aqueles que, muito
mais do que sentir a influência dos espíritos, são capazes de produzir efeitos
patentes, de certa intensidade, isto é, capazes de produzir fenômenos que
possam ser perceptíveis a outras pessoas.
Lendo-se o trecho por inteiro,
poderíamos reescrevê-lo da seguinte forma: quase todas as pessoas são capazes
de receber a influência dos espíritos em algum grau. Contudo, chamam-se de
médiuns aqueles que, mais do que receberem tais influências, conseguem
transformá-las em algum tipo de trabalho.
Talvez, se Kardec tivesse usado
o termo mediunidade na primeira parte do item e médium na segunda, toda essa
interpretação equivocada que leva muitas pessoas a imaginar que todos os seres
humanos sejam médiuns em potencial (e, neste caso, bastando que quisessem se
desenvolver), seriam evitáveis. Contudo, ele preferiu usar o termo médium,
no começo em sentido amplo (aquele que sente a influência dos espíritos) e,
posteriormente, médium num sentido prático (aquele que é capaz de
exercer um trabalho) e, creio, mesmo com todo cuidado do mundo, acabou dando
brechas para interpretações errôneas...
Poderia aprofundar a análise
deste item, pois é dele (ainda que quem diga que todos sejam médiuns não saibam
a referência), a interpretação equivocada que ainda ecoa por muitos terreiros.
Contudo, creio que o exame exposto seja o suficiente...
Por esta razão, em minha
maneira de crer e entender, quase todas as pessoas possuem mediunidade, isto é,
podem receber a influência dos espíritos em algum grau, porém,
proporcionalmente falando, apenas um contingente relativamente pequeno de pessoas
são de fato médiuns, isto é, capazes de exercer a sua mediunidade em forma de
um trabalho/comunicação.
São médiuns aqueles que
carregam em si mesmos o chamado “gérmen da mediunidade”, isto é, uma condição
física, cerebral, que lhes permite entrar em contato com o Mundo Espiritual,
o que pode variar conforme a faculdade e grau. Porém, desde que o indivíduo seja
dotado desta capacidade, pode-se dizer que se trata de um médium.
Como saber se sou médium?
Muitos pensam que os
indivíduos médiuns sejam pessoas que desde a mais tenra infância manifestam
sinais de tal mediunidade. Porém, isso não é necessariamente verdade. Posso
testemunhar neste sentido que, embora tenha tido algumas experiências
“paranormais” ao longo da minha vida, nunca imaginei que seria, efetivamente,
um médium.
Nunca vivi qualquer episódio
que me fizesse pensar que teria alguma mediunidade que pudesse ser trabalhada e
jamais me vi na condição de trabalhador da mediunidade.
Por isso, não se deve pensar
que a mediunidade se verifica por uma série de sintomas estranhos que
acompanharão o indivíduo ao longo de sua vida, pois isto nem sempre ocorre,
embora possa ocorrer.
Entretanto, não vou me ater aos sintomas que poderiam denunciar ou não a presença de uma faculdade
mediúnica, pois este processo não precisa ser interpretado ou deduzido, uma vez
que, na Umbanda, temos um método muito simples para saber se temos ou não temos
mediunidade a ser trabalhada: perguntando às entidades.
É claro que não se deve
perguntar isso para qualquer “entidade”, pois sabemos que, muitas vezes, os
médiuns não estão incorporados de fato ou, se estão, não estão firmes. É duro
admitir isso, mas é a verdade... Devemos perguntar este tipo de coisa apenas
para entidades que se manifestem através de médiuns de confiança, numa casa
séria e responsável.
Não existem atalhos, é preciso
procurar... Frequentar diversos terreiros, ir sempre de coração aberto, mas
nunca aceitar uma determinada informação a menos que você sinta firmeza no
médium e o que for dito faça sentido para você. E, acredite, o dia que você
encontrar um médium firme, você saberá, pois através dele, a entidade falará
coisas que não apenas vão fazer sentido para você, ela também falará coisas que
o médium não poderia saber.
Quando isto acontecer,
pergunte se você é médium e, se for, que tipo de mediunidade você possui e
pronto, você sairá da gira sabendo se é ou não é médium.
Como as entidades sabem quem é médium?
No topo da nossa cabeça,
existe o chakra coronário. Ele é o responsável por fazer a ligação do plano
material ao plano espiritual. As pessoas que não são médiuns possuem uma
irradiação luminosa bem fraquinha no topo da cabeça, enquanto as que são
médiuns (variando conforme o grau de mediunidade), possuem uma irradiação
bastante intensa no topo da cabeça, por vezes, a irradiação emite fachos de luz
para cima que dão a impressão de formar uma coroa (e é por isso que muitas
entidades chamam a mediunidade de coroa).
Como esse tipo de coisa só
pode ser percebido por uma entidade, de nada vale perguntar a outro médium ou
mesmo a um dirigente de terreiro, pois mesmo que seja muito experiente, somente
as entidades são capazes de ver esse tipo de irradiação (os médiuns podem ver a
coroa, às vezes, durante a incorporação, apenas).
A entidade olhará o topo da
cabeça da pessoa e sem sombra de dúvidas dirá se a pessoa é médium e, se for,
dirá qual tipo de mediunidade ela possui (eu não sei detalhar como eles sabem
distinguir o tipo de mediunidade a partir da irradiação luminosa).
Se a resposta for positiva,
deve-se perguntar à entidade qual deve ser o próximo passo e ela o indicará.
Leonardo Montes
Estou gostando muito das suas explicações. Já frequentei muitas religiões mas hoje procuro aprender e me esclarecer no espiritismo que sempre tive receio de conhecer. Estou gostando muito e deixando o preconceito de lado. Obrigada pelas palavras de conhecimento.
ResponderExcluirFico feliz em saber.
ExcluirGosto muito das suas explicações.
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