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Estudo
sobre a espiritualidade desde 2001 e, deste então, uso a internet tanto para
aprender quanto para ensinar sobre isso. Nestes quase 19 anos de caminhada, porém,
muita coisa mudou.
A
internet foi de uma “terra selvagem”, sem lei, a um ambiente altamente
diversificado e focado em redes sociais que, a princípio, democratizaram o
acesso à informação e a liberdade de expressão, mas com certos limites.
E
não falo aqui dos limites em que a liberdade de expressão ofende alguém, estas
coisas. Falo dos limites que os donos destas plataformas impõem às pessoas, censurando
vídeos sem critérios muito bem definidos.
Em
2018, passei por uma experiência que me irritou tanto que fez com que eu
excluísse a página Voz Espiritualista do facebook. Basicamente, o que acontecia
era o seguinte: toda vez que eu postava alguma reflexão na página e da
página compartilhava nos grupos, o facebook entendia que eu estava praticam
“spam”, mesmo compartilhando em poucos grupos, bloqueando a minha conta.
A
desculpa era a minha segurança, mas eu quase perdi a minha conta. Naquela
época, o sistema que o facebook usava para verificar que “realmente era eu quem
estava usando a conta”, era escolher aleatoriamente a foto de cinco amigos do
perfil, pedindo que identificasse os nomes de cada um.
O
problema é que sempre aceitei todos que pediam amizade, nem sempre mantendo
contato. Se errasse algumas vezes, a conta era bloqueada e teria que enviar
cópias de documentos para provar a minha real identidade.
Quando
quase perdi acesso à conta, resolvi excluir a página. Não sei se este sistema
ainda vigora, por que quando compartilho pelo meu perfil não tenho este
problema.
Agora
em 2020, outro fato profundamente irritante me ocorreu e foi a gota d’água para
encerrar o canal Voz Espiritualista (eu já pensava em aposentá-lo).
Em
04/04/2020, recebi uma notificação do Youtube dizendo que um vídeo do canal,
chamado: Posso ser umbandista sem frequentar terreiros? (postado em
2018), infringia as regras da plataforma por ser “conteúdo
nocivo ou perigoso”.
Levei
um baita susto.
Ouvi
três vezes o áudio para ver se falei alguma coisa indevida, algum palavrão e o
vídeo não tinha absolutamente nada errado. Era um tema até bobinho...
Fiz
a contestação, informando que até mesmo a imagem que usei de fundo no vídeo era
de minha autoria e que não havia nada que parecesse “nocivo ou perigoso”.
A
minha apelação foi rejeitada e o vídeo foi excluído.
Como
ser humano e espírito em marcha, confesso que fiquei com muita raiva. Senti-me
impotente e pensei: se quisessem, eles poderiam excluir o canal inteiro e eu
simplesmente não poderia fazer nada sobre isso.
O
que provavelmente aconteceu foi que o vídeo recebeu muitas denúncias (é uma
ferramenta que o Youtube disponibiliza).
Eu
já havia tido problemas com o vídeo “Ida ao Umbral”, cujo link fora
jogado num fórum evangélico, o que fez a audiência subir muito – 174 mil
visualizações, mas que me trouxe também muita dor de cabeça por uma série
de comentários agressivos, o que fez com que eu bloqueasse comentários neste
vídeo.
Suponho
que algo semelhante tenha acontecido neste caso e apesar de ter sido apenas um
vídeo, num mar de 592 outros, eu fiquei realmente muito irritado, pois o vídeo
estava no ar há dois anos e não havia absolutamente nada de ilegal no mesmo.
Perceba:
o problema não é terem apagado UM vídeo e deixado os outros 592 no ar, o problema
foi terem apagado um vídeo que NÃO tinha nada errado.
Muitos
outros canais passaram por isso, mesmo canais grandes e, acredite, é
profundamente frustrante para um produtor de conteúdo ter qualquer coisa sua
excluída sobre uma argumentação falsa...
É
frustrante pensar que se um vídeo recebe muitas denúncias, como no exemplo
citado, em que provavelmente houve uma ação orquestrada de um grupo coeso, os
revisores de conteúdo simplesmente apaguem sem levar em conta a sua
contestação.
Esta
é uma das razões que me fizeram voltar para a produção de textos, pois pelo
menos no universo dos blogs, eu nunca soube de algum tipo de censura...
Contudo, veremos como será o futuro que, ao que tudo indica, não caminha bem no
que se refere à liberdade de expressão na internet.
Hoje,
soube de um canal, com mais de um milhão de inscritos, e que provavelmente será
deletado, pois o Youtube considera o conteúdo como “teoria da conspiração” e eu
gostaria de falar um pouco sobre isso.
Eu
cresci ouvindo a famosa frase atribuída a Voltaire: “Não concordo com uma palavra do que dizes, mas defenderei
até a morte o direito de dizê-la”. Sempre achei lindo este
pensamento e sempre o trouxe comigo.
Quem
acompanha os grupos do Whatsapp, por exemplo, sabe que nunca censurei nenhum
assunto nem impedi qualquer tipo de compartilhamento de conteúdo sobre
espiritualidade (a exceção fica por conta das enquetes, não pelo conteúdo, mas
pelo formato, já que visa apenas polêmica), mesmo que não concordasse com
absolutamente nada do que era repassado nos grupos, por exemplo.
Penso
que as pessoas são livres e têm o direito de acreditarem no que quiserem. Algo
visto como uma “teoria da conspiração”, por uns, pode ser o fundamento de uma
crença, para outro. Como julgar?
Eu
sei que existem conteúdos perigosos na internet, como os conteúdos
“anti-vacinas” (e aqui talvez vocês discordem de mim), mas eu defendo que
estas pessoas tenham a liberdade de dizerem porque são contra as vacinas,
inclusive, podendo produzir vídeos, textos, podcasts, sobre isso.
Eu
estou bastante ciente do dano que isso pode causar, mas não acho que a
censura seja o caminho. Aliás, cada vez que um canal ou uma página sobre “conspirações”
são deletados, isso apenas reforça a crença deles...
E,
não: eu não defendo uma liberdade absoluta ao ponto em que o indivíduo possa,
em nome da liberdade de expressão, ofender, difamar ou coisa semelhante... Eu
defendo o direito de as pessoas pensarem e dialogarem sobre o que quiserem sem
que um outro (robô, funcionário ou dono de plataforma), por qualquer razão, simplesmente
intervenha e apague tudo o que levou anos para ser construído.
Na
verdade, quando penso nas razões que levam alguém a crer que vacinas sejam
ruins, que a Terra é plana ou que o homem nunca pisou na lua, sou forçado a
crer que isso se deve a um processo de destruição lenta e progressiva da
educação, começando pela desvalorização da escola e do papel do professor.
Portanto,
penso que censurar vídeos ou excluir canais, seja a forma menos eficaz para
impedir o avanço de ideias perigosas ou destrutivas. Se a educação fosse
realmente valorizada, o conhecimento científico ensinado às crianças desde
cedo, não teríamos que nos preocupar com qualquer ideia estranha ou
“conspiratória”, pois as pessoas teriam mais ferramentas para analisar e
discernir.
Para
encerrar este texto (que já está muito longo), penso na imparcialidade dos
revisores de conteúdo das grandes plataformas. Eles realmente analisam o
conteúdo? Se sim, por que excluíram um vídeo que não continha nada de errado?
Este revisor estava atolado de serviço e resolveu simplesmente clicar em “rejeitar”
ou ele tinha um viés religioso que o fez chegar a esta decisão?
Hoje
são os canais de “conspirações”, amanhã poderão ser os de Umbanda. Será que fui
tomado pelas teorias conspiratórias? Não. Penso nos mais de 300 anos de
escravidão, no código penal de 1890, na falta de reconhecimento da Umbanda como
religião até meados de 1940, na demonização das entidades até bem pouco tempo
atrás em rede nacional e em outras tantas coisas mais e não me surpreenderia
se, amanhã ou depois, alguém alegasse, por qualquer razão, que os conteúdos de
Umbanda também violam as diretrizes de alguma plataforma...
Leonardo
Montes
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