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O estudo é fundamental
em todas as áreas da vida, pois é um dos maiores legados da humanidade: a capacidade
de transmitir às novas gerações o conhecimento acumulado nas anteriores.
Contudo, nem sempre foi
assim.
Século XX
Estudos mais recentes
mostram que há pelo menos 11 milhões de analfabetos no Brasil. Tente imaginar,
agora, no começo do século XX, quando a Umbanda nasceu e se espalhou.
As pessoas não sabiam
ler (diferentemente de hoje que sabem, mas não querem) e para se informarem
sobre a religião tinham que recorrer, necessariamente, a sabedoria dos mais
velhos, razão pela qual o conhecimento foi transmitido quase que exclusivamente
via oralidade.
Neste período, a
maioria dos médiuns de incorporação eram inconscientes e isso se deu pela
necessidade da espiritualidade em fundamentar a religião, o que exigia maior
domínio do corpo do médium para que a entidade pudesse trabalhar de maneira
mais livre.
Para assegurar a
veracidade das manifestações haviam muitos testes para confirmar se a pessoa
realmente estava incorporada: andar sobre brasas, engolir fogo, comer caco
de vidro, etc. As pessoas acreditavam que estes testes eram necessários
para provar a manifestação (embora em qualquer circo se faça o mesmo, sem estar
incorporado...).
Havia também a crença
de que o médium nada precisava saber, que o guia sabia tudo (o que, em partes,
se justificava pela inconsciência do transe, embora o médium inconsciente
também influencie na manifestação).
Os médiuns começavam a
gira, apagavam, retornavam ao final e iam para casa. Faziam isso durante anos e
praticamente nada aprendiam, senão, aquilo que conseguiam pegar aqui e ali.
Contudo, conforme os
fundamentos foram estabelecidos e o tempo avançava, a inconsciência foi
perdendo espaço para a consciência (que, diga-se, sempre existiu, mas eram
poucos os médiuns conscientes), o que acabou gerando diversas crises (existem
obras das décadas de 1950/1960 em que autores tentam explicar as razões desta
mudança).
Assim, a necessidade de
saber, de entender, de aprender, tornou-se cada vez mais forte. Neste período,
as pessoas começaram a se interessar mais sobre a religião e começaram a
procurar mais informações, o que fez com que vários autores clássicos da religião
escrevessem suas obras, atendendo a esta necessidade.
Estudo
Apesar de tardiamente
se interessarem pelo estudo, o fato é que há bastante tempo já se sabia sobre a
importância do mesmo. Em O Livro dos Médiuns, de Allan Kardec, é dito o
seguinte:
“Assim,
quando encontramos em um médium o cérebro povoado de conhecimentos adquiridos
na sua vida atual e o seu Espírito rico de conhecimentos latentes, obtidos em
vidas anteriores, de natureza a nos facilitarem as comunicações, dele de
preferência nos servimos, porque com ele o fenômeno da comunicação se nos torna
muito mais fácil do que com um médium de inteligência limitada e de escassos
conhecimentos anteriormente adquiridos.”
Assim, o que os antigos
pensavam sobre o estudo estava profundamente errado e isso é sempre um alerta: não
é por que algo é antigo que é bom ou verdadeiro. As pessoas, devido a falta
de estudo, pelas próprias condições socioeconômicas em que viviam, tinham uma
compreensão bastante equivocada deste processo.
Intérprete
O médium é o intérprete
dos espíritos, não uma marionete nas mãos deles. O médium tem a faculdade de
receber o pensamento do espírito, interpretá-lo e então realizá-lo no mundo
material.
Continuando a citação:
“Com um
médium, cuja inteligência atual, ou anterior, se ache desenvolvida, o nosso
pensamento se comunica instantaneamente de Espírito a Espírito, por uma
faculdade peculiar à essência mesma do Espírito. Nesse caso, encontramos no
cérebro do médium os elementos próprios a dar ao nosso pensamento a vestidura
da palavra que lhe corresponda e isto quer o médium seja intuitivo, quer semi mecânico,
ou inteiramente mecânico. Essa a razão por que, seja qual for a diversidade dos
Espíritos que se comunicam com um médium, os ditados que este obtém, embora
procedendo de Espíritos diferentes, trazem, quanto à forma e ao colorido, o
cunho que lhe é pessoal”.
Portanto, estude pouco
ou muito, todo médium (mesmo os inconscientes), influenciam nas manifestações,
já que o pensamento do espírito, ao ser recebido pelo cérebro do médium,
passará por um processo de decodificação conforme a cultura do próprio médium: é
um processo de tradução da informação.
Logo, o medo de que o
médium ao estudar venha a influenciar negativamente a manifestação não se
sustenta.
Necessidade do estudo
Um exemplo pessoal:
Certa feita, um guia
queria recomendar ao consulente o banho de Pinhão Roxo. Eu não conhecia esta
planta. Assim, vinham na minha cabeça: Pinha, Pinheiro, Pinhal, Roxo, Banho,
e eu não entendia o que a entidade queria dizer.
Ela dizia, claramente: Pinhão
Roxo, mas como eu não conhecia a planta, meu cérebro recebia o pensamento e
buscava as palavras mais próximas (dentro do banco de dados disponível, isto é,
o meu conhecimento), que pudessem se encaixar de forma adequada ao que a
entidade queria dizer.
É por isso que o médium
precisa estudar, não para ensinar a entidade ou atender em seu lugar, mas para
que possa ser melhor instrumento para a espiritualidade.
“Efetivamente,
quando somos obrigados a servir-nos de médiuns pouco adiantados, muito mais
longo e penoso se torna o nosso trabalho, porque nos vemos forçados a lançar
mão de formas incompletas, o que é para nós uma complicação, pois somos
constrangidos a decompor os nossos pensamentos e a ditar palavra por palavra,
letra por letra, constituindo isso uma fadiga e um aborrecimento, assim como um
entrave real à presteza e ao desenvolvimento das nossas manifestações.
“Por isso é que gostamos de achar médiuns bem adestrados, bem aparelhados, munidos de materiais prontos a serem utilizados, numa palavra: bons instrumentos, porque então o nosso perispírito, atuando sobre o daquele a quem mediunizamos, nada mais tem que fazer senão impulsionar a mão que nos serve de lapiseira, ou caneta, enquanto que, com os médiuns insuficientes, somos obrigados a um trabalho análogo ao que temos, quando nos comunicamos mediante pancadas, isto é, formando, letra por letra, palavra por palavra, cada uma das frases que traduzem os pensamentos que vos queiramos transmitir.”
“Por isso é que gostamos de achar médiuns bem adestrados, bem aparelhados, munidos de materiais prontos a serem utilizados, numa palavra: bons instrumentos, porque então o nosso perispírito, atuando sobre o daquele a quem mediunizamos, nada mais tem que fazer senão impulsionar a mão que nos serve de lapiseira, ou caneta, enquanto que, com os médiuns insuficientes, somos obrigados a um trabalho análogo ao que temos, quando nos comunicamos mediante pancadas, isto é, formando, letra por letra, palavra por palavra, cada uma das frases que traduzem os pensamentos que vos queiramos transmitir.”
O mesmo vale para a
incorporação.
Estudo para a vida
Saindo um pouco do
âmbito da mediunidade, o estudo também é importante para que o médium aumente a
sua cultura, o seu saber e se torne uma pessoa com melhores ferramentas à sua
disposição, caso queira se melhorar enquanto indivíduo.
O estudo da
espiritualidade, como um todo, enriquece o nosso saber espiritual e melhora
nossa compreensão da religião.
Quantas pessoas há,
muitas vezes trabalhadoras da religião, e que não dizem nada de útil? Que não
são capazes, sequer, de oferecer uma simples explicação para um leigo?
Somos formadores de
opiniões!
A palavra de um médium
que atue em terreiro tem peso de chumbo para um leigo. Por isso, chega a ser quase
incompreensível o descaso da maioria dos umbandistas frente a possibilidade de
aprender mais sobre a própria religião, embora haja, hoje em dia, uma febre de
curiosidade, mas não passa disso: curiosidade. Uma vez satisfeita a
curiosidade, a empolgação vai embora e o interesse desaparece como que por
encanto.
Seja como for, nunca tivemos
tantas possibilidades: livros, cursos, blogs, podcast, canais, páginas,
enfim, abundam informações das mais diversas naturezas pela internet de modo
que todos podem ter acesso, se quiserem.
Até o próximo estudo!
Leonardo Montes
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