Curso Básico de Umbanda
CURSO BÁSICO DE UMBANDA - CAP. 57 - FRATERNIDADE ENTRE TERREIROS
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De modo geral e, infelizmente,
os terreiros permanecem isolados uns dos outros, como se cada um fizesse parte
de um mundo totalmente diferente do outro. Assim, não é incomum encontrarmos
casas que proíbem seus frequentadores de visitarem outros terreiros ou até
mesmo expulsem membros que se arrisquem em fazê-lo.
Crescimento caótico
Como já estudamos, a Umbanda
se expandiu de forma caótica no Brasil, isto é, sem um direcionamento por parte
de uma liderança ou instituição. Basicamente, o processo de formação de novas
casas se dava essencialmente por mudança de membros para novas cidades ou por
cisões.
Eventualmente, um médium, por
ocasião de trabalho, por exemplo, era transferido para uma nova cidade. Em lá
chegando, procurava saber sobre a existência de algum terreiro e não
encontrava. Assim, para não deixar de trabalhar, começava a receber seus guias
em sua casa. Com o passar do tempo, mais pessoas chegavam e logo havia
estrutura suficiente para abrir um novo terreiro.
Foi basicamente este o modelo
que fez com que a Umbanda se espalhasse, gradativamente, pelo interior do país.
Contudo, às vezes, as pessoas
divergiam, entravam mesmo em atrito e surgiam dissenções. Neste caso, um ou
mais médiuns acabavam por sair do terreiro e fundavam, logo em seguida, um
outro, com tudo aquilo que consideravam adequado e que o anterior não possuía.
Então, não apenas surgia uma
nova casa, mas uma casa com diferenças em relação a primeira. Este
procedimento, ao longo do tempo, produziu imensa variabilidade nas formas de se
praticar Umbanda e gerou também seus efeitos colaterais.
Dirigentes que, por uma razão
ou por outra, não concordavam com a forma da nova casa trabalhar, acabavam por
criticá-la, abertamente ou não, apontando erros, perigos e mesmo incoerências
neste novo terreiro.
Com razão ou não, o fato é que
este comportamento desestimulava seus frequentadores de visitarem a outra casa,
sob pena de saírem dela “com carrego” ou com algo negativo.
Cruzar linhas
É deste contexto que nasceu a
expressão “cruzar linhas” como sinônimo de algo ruim. Como a dizer que quem
encontrou o seu terreiro não deve visitar outro, sob pena de sair pior, de
pegar energias ruins, de passar mal, etc.
Contudo, pergunto:
independentemente das divergências humanas, todo terreiro sério não
trabalha pela mesma causa, embora as maneiras possam ser diferentes?
Os guias que atuam no terreiro
A, por acaso, seriam inferiores aos que atuam no terreiro B? Os consulentes que
frequentam o terreiro A e recebem as graças que buscam, estariam privados de
recebe-las se frequentassem o terreiro B?
Costumo dizer, em tom
descontraído, que o “que cruza linha é pipa no céu”.
Os espíritos atuam em todos os
seguimentos onde se façam necessários. Não importa que seja terreiro A ou B. Se
necessário, os espíritos que habitualmente atuam numa casa vão mesmo auxiliar
em outras, até mesmo fora do seguimento religioso, pois a solidariedade é um
dos caminhos espirituais de evolução.
Portanto, não tenho a menor
dúvida em afirmar que este conceito é errôneo e, mais, tem produzido, ao longo
do tempo, divisionismos que não se justificam de forma alguma, fazendo que com
os terreiros se comportem como pequenos feudos interessados apenas no que
acontece em suas próprias terras.
Na melhor das hipóteses, os
terreiros que proíbem seus membros de visitarem outras casas sofrem com excesso
de zelo e, na pior, têm o desejo de controlar a experiência religiosa do outro,
repetindo os mesmos erros que as velhas tradições religiosas repetem há
milênios...
Experiência pessoal
Este divisionismo não está
apenas na Umbanda, vários outros seguimentos sofrem com isso. Para ilustrar,
contarei um caso pessoal.
Certa feita fui indicado, por
um conhecido, a fazer um estudo sobre Obsessão Espiritual num pequeno centro
espírita da cidade. Ninguém lá me conhecia.
Fiz o estudo e as pessoas
gostaram muito. Ao final, os dirigentes da casa vieram conversar comigo,
interessados em marcar uma nova reunião de estudos, procurando saber mais sobre
mim.
Tudo ia muito bem até que uma
senhora perguntou em que centro eu trabalhava. Respondi-lhe que em nenhum,
dizendo que estudava o Espiritismo desde os meus 16 anos de idade, mas que
estava em processo de desenvolvimento mediúnico num terreiro de Umbanda.
O susto foi geral. A conversa
foi minguando, as pessoas procuraram outras para conversar e em poucos minutos
me vi sozinho, indo embora praticamente ignorado por todos os presentes que,
minutos antes, me cercavam...
Nunca mais recebi convite para
retornar a esta casa.
Novo olhar
Eu ajudei a fundar um terreiro
e trabalho em outro há quase três anos, ajudando nos trabalhos de desobsessão.
Nunca me aconteceu qualquer aborrecimento sobre isso, pelo contrário, foi um
pedido das próprias entidades e tem dado muito certo!
Todo terreiro trabalha pela
mesma causa, assim, não há razão para proibir as pessoas de visitarem outras
casas. Pelo contrário: isso deveria ser estimulado, pois fortalece a religião.
Em nossa casa, qualquer médium
pode visitar outro terreiro e se julgar que servirá melhor nesta nova casa,
poderá ficar, sem problema algum, sem qualquer ressentimento, pois todo
terreiro sério é bom e se é bom merece nosso apoio.
Assim, conclamo, especialmente
os dirigentes, a abrirem suas mentes sobre isso. Desde que as pessoas aprendam
a respeitar cada terreiro em sua singularidade, será sempre uma experiência positiva conhecer outras casas.
Fraternidade
Dentro do possível, todo
terreiro deveria ajudar outros terreiros, especialmente, se em dificuldade e isso
por uma razão simples: trabalhamos pela mesma causa!
Recentemente, visitei um
terreiro muito importante para mim, e lá soube, pelo dirigente, que estavam
passando muitas dificuldades financeiras em razão de uma dívida.
Então, fiz uma pequena
campanha junto aos membros da nossa casa e arrecadei quase duzentos reais para
ajuda-los. Sei que foi uma pequena quantia, mas antes ter duzentos a mais do
que a menos, não é?
Se os terreiros se visitassem
e se auxiliassem, a religião como um todo se fortaleceria, os laços fraternais
criados pelas casas, ainda que sejam de doutrinas diferentes, beneficiaria a
todos por este elo de amizade e estima recíproca.
A religião é que ganharia com
este novo olhar!
Até a próxima aula!
Leonardo Montes
É um espírito de competição , nada bom no meio fraternal mas creio que isso está mudando
ResponderExcluirInfelizmente...
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