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Todo terreiro possui uma pessoa encarregada de
conduzir as atividades espirituais da casa. A esta função, dão-se vários nomes:
Pai de Santo, zelador, padrinho, dirigente, chefe de terreiro, médium
principal, etc.
Seja qual for o nome, é uma figura central em
todo terreiro, tendo a responsabilidade de conduzi-lo, conforme orientação de
seus próprios guias.
Pai de Santo?
O termo “Pai de Santo” é a tradução
aportuguesada de Babalorixá e faz sentido dentro dos Candomblés, onde se
acredita que uma porção do Orixá é colocada no iniciado, sendo essa porção uma
nova “vida” que nasce, cresce e precisa ser educada, por isso são chamados de
Pai de Santo ou Mãe de Santo as pessoas encarregadas das casas de Candomblé que
assumem a responsabilidade de “educar o Santo” de cada filho.
Porém, na Umbanda, este termo passou a ser
empregado em algum momento na década de 1940 quando os dirigentes de terreiros
começaram a se aproximar do Candomblé Ketu, em especial, trazendo para dentro
da Umbanda diversas crenças e rituais que, originalmente, não lhe pertenciam,
como é o caso do cargo de Pai de Santo.
Ninguém faz Santo na Umbanda. Ninguém acredita
que uma porção do Orixá estará dentro do médium que se inicia na religião...
Logo, por que os dirigentes continuam se referindo a si mesmos como Pai de
Santo ou Mãe de Santo? É algo a se pensar...
Antigamente, nenhum dirigente de terreiro
aceitava ser chamado de Pai de Santo. Conta-se que quando as pessoas chamavam
Zélio de Pai, este respondia brincando que filhos ele só tinha os biológicos
mesmo...
Dirigente
O termo dirigente me parece o mais adequado,
pois faz referência a pessoa responsável por conduzir as atividades espirituais
da casa, sem dar-lhe qualquer destaque especial por isso.
O dirigente nem sempre é o melhor ou o mais
forte dos médiuns, é apenas aquele, apontando pelos espíritos, cuja tarefa
espiritual exige um pouco mais de sacrifício e responsabilidade que os demais.
Por exemplo:
A maioria dos médiuns de corrente (isto é, os
trabalhadores mediúnicos da casa), preocupam-se em cumprir a sua tarefa que,
quase sempre, resume-se em: chegar, incorporar e ir embora.
O dirigente também tem essa responsabilidade,
porém, tem outras. Ele não pode simplesmente focar em si, pois tem que estar
atento a tudo. Geralmente, é o primeiro a chegar e o último a sair, preocupando-se
consigo, com os outros, com a casa e, principalmente, com o futuro, de modo que
este é um cargo cuja glória é mais imaginária do que factual, exigindo, não
raro, muita renúncia e abnegação para ser levado a efeito...
Quem pode ser dirigente?
Muitas pessoas acreditam que qualquer um pode
tornar-se dirigente, bastando para isso estudar e aprender o suficiente.
Contudo, não é assim. Esta função é determinada pela espiritualidade, não é
algo que se busca de livre-vontade.
Quando os espíritos apontam alguém como futuro
dirigente, esta pessoa deverá se esforçar muito para aprender tudo quanto lhe
seja possível absorver, todos os rituais, conhecimentos e orientações para
poder dar seguimento a tarefa espiritual quando sua hora chegar.
Vamos lembrar, conforme já estudamos, que os
médiuns são, em sua maioria, espíritos com pesadas dívidas com o passado. A
mediunidade surge como forma de quitar estas dívidas, plantando amor onde,
antes, havia plantado ódio e dor.
Com o dirigente também é assim, porém, ele veio
com a responsabilidade de organizar, unir e direcionar um corpo mediúnico para
que o trabalho seja exercido de forma adequada, o que quase sempre redunda em
provação e é por isso que é tão fácil os dirigentes caírem.
Logo, ninguém deveria desejar este cargo, mas
aceitá-lo como um fardo, uma tarefa, a qual lhe cabe cumprir com louvor, se
quiser vencer suas próprias provações.
A pessoa que veio para trabalhar como médium de
corrente e que decide, por si mesma, quase sempre impulsionada por uma glória
imaginária, tornar-se dirigente, abrindo seu próprio terreiro, acabará dando
origem a uma casa que provavelmente não se sustentará e que enfrentará muitos desafios e dissabores,
pois estará exercendo uma tarefa para a qual não foi preparada espiritualmente.
A chance de não dar certo é muito grande...
Desafios
Um dos maiores desafios do dirigente é manter o
terreiro unido e funcionando, dentro dos critérios estabelecidos pela
espiritualidade, objetivando sempre o melhor.
A maioria dos médiuns são pessoas problemáticas
que, não raro, parecem dar curto em contato uns com os outros. Assim, diluir
essas tensões e manter o foco, torna-se um desafio e tanto.
Ao mesmo tempo, terá que lidar com seus
próprios problemas, tomando cuidado para não deixar a soberba ou a vaidade
consumirem suas forças, pois será impiedosamente atacado pelas trevas.
Entretanto, se conseguir levar adiante sua tarefa
(e para isso não faltarão apoio das entidades), sem dúvida, colherá muitos e
proveitosos frutos de felicidade em seus caminhos espirituais.
Aceitação
É muito importante que cada pessoa aceite a tarefa
que lhe foi designada, pois é muito comum encontrarmos médiuns que queriam ser
cambones ou cambones que queriam ser médiuns ou mesmo médiuns que queriam ser
dirigentes e dirigentes que queriam apenas ser médiuns. É o velho drama da
insatisfação humana, quando não nos contentamos com nada e queremos tudo que
não nos pertence.
Cada um deve cumprir o seu papel, sendo que não
há papel melhor do que outro. São partes de um mesmo organismo que, para
trabalhar bem, necessita que todos cumpram suas funções, sejam elas quais
forem.
Conclusão
Para ser um bom dirigente na Umbanda, é
necessário que o dirigente se converta no servo de todos, no amigo para todas
as horas e não em uma figura enfadonha que deseja ser reverenciada como um rei,
como infelizmente acontece...
O dirigente, possuindo responsabilidades
maiores que os demais médiuns, será, por isso mesmo, exigido mais intensamente
pela vida, razão pela qual deverá tudo fazer, dentro de suas possibilidades,
para que sua tarefa seja coroada de luz.
Até a próxima aula!
Leonardo Montes
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