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Há pouco tempo gravei uma reflexão sobre os danos causados
pela fofoca em um terreiro. Não foram poucos os relatos que já chegaram até mim
exemplificando como este hábito nocivo pode desestruturar e mesmo ocasionar o
fechamento de uma casa.
Hoje, porém, falarei de outra situação, a maledicência,
isto é: o hábito que algumas pessoas têm de falar mal de outras pessoas e,
especialmente, do próprio terreiro em que atua.
Sempre aprendi com os guias que não sou obrigado a nada e
por isso sempre ensino que ninguém é obrigado a permanecer numa casa, assim
como nenhuma casa é obrigada a mudar seu “modus operandi” simplesmente para
agradar a quem quer que seja.
Uma das características mais belas da liberdade é a capacidade
de escolher onde queremos estar. Logo, se um terreiro, por alguma razão, não
nos parecer o melhor local para estarmos, basta seguirmos adiante com nossa
vida espiritual, procurando um novo local para trabalhar.
Assim, não nos desgastaríamos e não desgastaríamos as
demais pessoas, certo?
Porém, o maledicente não pensa assim.
O maledicente possui um incontrolável desejo de criticar o
chão em que bate cabeça. Sente um irrefreável desejo de palpitar em tudo e, não
raro, obra mais com a língua do que com os braços. Deseja ardentemente ser
reconhecido pelos demais, porém, não se mostra capaz de produzir obras que o
coloquem à altura que imagina estar em seus devaneios.
Não raro, esforça-se muito para passar a imagem de alguém
dedicado, interessado, profundamente aplicado às suas tarefas espirituais, mas
quando a cortina se fecha, quando passa pelo portão do terreiro, sua máscara
cai e toda sua chaga é exposta.
Nestas situações, o maledicente não se aguenta e quase se
contorce de vontade de comentar negativamente até mesmo as coisas mais puras e
santas que viu durante a gira. Tão logo possível, chama no whatsapp alguém do
terreiro e começa a disseminar suas picuinhas com apontamentos desagradáveis
sobre tudo e sobre todos (claro, menos sobre si mesmo).
Se houver oportunidade, não se incomoda em permanecer
longos minutos em ligações chorosas a quem lhe dê ouvidos, reclamando de todas
as coisas erradas que existem no terreiro e o quanto os demais companheiros são
cegos e surdos a seus apelos “benevolentes” capazes de apontar a saída para
todas as “coisas erradas” que existem na casa.
Felizmente, boa parte das pessoas, tão logo percebem essa
atitude mesquinha, procuram logo se esquivar, desconversando ou procurando outros
assuntos.
Em algum momento, porém, o maledicente encontra quem lhe dê
ouvidos e vai, lentamente, envenenando a mente alheia que não se opõe com a
devida firmeza. Assim, não raro, o maledicente consegue arregimentar duas ou
três pessoas, trabalhadores da casa que devido às próprias frustrações acabam
entrando em sua “onda” mental destrutiva.
Aqui reside o perigo real.
Se o maledicente envenenasse apenas a si mesmo com
pensamentos tóxicos e uma imagem auto iludida sobre si mesmo, seria menos
mal... Porém, a partir do momento em que consegue envolver outras pessoas em
suas ideias, começa a surgir uma rachadura na casa.
Tal rachadura, se não for combatida, aumentará mais e mais
até chegar ao ponto mencionado no início do texto: o fechamento da casa. Curioso
que, se vier a acontecer, o maledicente, mesmo tendo sido a causa inicial da
rachadura, acaba se mostrando para os demais como um verdadeiro profeta,
dizendo: bem que eu avisei...
Por esta razão, fiquemos em guarda e não emprestemos nossos
ouvidos ao mal alheio, pois ao fazermos isso, estaremos contribuindo para que
uma luz se apague no planeta, pois é o que acontece quando uma casa boa fecha
suas portas...
Mas, e a espiritualidade?
A espiritualidade não fica impassível e, frequentemente,
emite severos alertas sobre os comportamentos nocivos que alguns membros do terreiro
podem adotar. Contudo, é preciso não esquecer que é tarefa dos encarnados velar
pela parte material e humana do terreiro e que embora possamos contar com os
guias como almas bondosas que nos apontam o roteiro certo, é imprescindível
reconhecer que a tarefa é essencialmente nossa.
Contudo, qual seria a melhor forma de agir? Expulsar estas
pessoas? Apontar-lhes o dedo, esfregar na cara a verdade nua e crua?
Na verdade, não!
Precisamos lembrar que a espiritualidade reúne, sob o teto
de um terreiro, espíritos dos mais diversos tipos, frequentemente,
perturbadoramente endividados com a lei Divina que, benévola, concede a todos a
oportunidade de reajuste.
Se Deus uniu um grupo de espíritos para um trabalho de
redenção é que há possibilidade de vitória e certamente todos têm o que
aprender uns com os outros. Por isso, embora o caminho mais fácil seja desejar
que estas pessoas sumissem do terreiro para sempre, o caminho que o evangelho
nos sugere é o justo oposto: devemos fazer o possível para tolerá-las e auxiliá-las
com nossas orações.
Contudo, esta tolerância não pressupõe desleixo a ponto de
permitir que a erva daninha se instale no terreiro. Devemos ser firmes em nossa
resolução, como ensinou Jesus:
“Seja, porém, o vosso falar: Sim, sim; Não, não; porque o que passa disto é de procedência maligna”. Mateus 5:37
Nada assusta mais o maledicente que o desinteresse em suas
lamúrias, pois quando perde a esperança de espalhar a sua perturbação verbal,
termina por se afastar, quase sempre, cheio de queixumes sobre a antiga casa...
Assim, a solução que aprendi com os espíritos é: não dê
ouvidos ao mal!
Se em algum momento alguém se aproximar de você reclamando do
terreiro ou mesmo de outra casa, não dê prosseguimento ao assunto, não
contribua para que a perturbação se espalhe, encerre a conversa dizendo coisas
como:
- Bem, se o terreiro é tudo isso que você fala, o melhor
seria buscar outra casa.
Ou mesmo:
- Se você acha que sua visão sobre como conduzir um
terreiro é melhor que a da casa em que está atuando, por que não abre o seu e
se poupa de tanta reclamação?
Pode parecer pouco, mas como o maledicente age com “luva de
pelica”, sua estratégia de contágio se dá por gotas homeopáticas e se os
ouvidos do terreiro se fecharem às suas queixas, elas morrerão antes de saírem
de sua própria boca...
Por fim – e o mais difícil – é observarmos este
comportamento sem desprezo e raiva, pois embora tenha usado termos fortes para
compor este texto, desejei apenas escrever de forma clara sobre um problema que
tem sido um verdadeiro flagelo para muitos terreiros e não para que sirva de
fomento ao ódio ou mesmo a intolerância.
Os maledicentes são enfermos da alma, pessoas carentes, com
frustrações profundas em vários níveis e que projetam a sua felicidade em
posições ilusórias e quase sempre inalcançáveis e, embora sejamos todas almas
doentes em algum nível, eles reclamam compreensão, tolerância e oração.
Assim, não empreste seus ouvidos ao mal e na medida do
possível, ore fervorosamente para que estas pessoas compreendam o abismo a que
se precipitam e aprendam que, antes de reclamar, deviam dar graças a Deus pela
oportunidade de atuarem em algum terreiro.
Leonardo Montes
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