DIÁRIO DE UM MÉDIUM INICIANTE - CAPÍTULO 21: O FUMO

fumo na umbanda

Vindo de família que não fuma e detesta o fumo, imaginei que esse seria um dos fatores que mais dificultariam meu ingresso na Umbanda. Se não bastasse, sou bastante alérgico e sofro com rinite crônica. As primeiras vezes em que frequentei um terreiro foram tormentosas por conta da fumaça da defumação e, posteriormente, dos cachimbos, charutos, cigarros de palha, etc. Desejava sair correndo em busca de ar fresco. Com o tempo, porém, acostumei-me. 

Certo dia, uma bondosa preta-velha, Vovó Maria do Rosário, ofereceu-me um cigarro de palha. Aceitei a contragosto, pois jamais pensei em fumar. Pediu-me que acendesse ali mesmo e que segurasse a fumaça na boca, sem engoli-la, pois é assim que eles fazem, sem tragar. Acendi, fumei e, para minha surpresa, minha rinite parecia adormecida. Mais: minha boca salivava de vontade de fumar outro e outro, como se estivesse me deliciando com alguma iguaria muito apreciada! 

Fumei rapidamente aquele cigarro de palha e, tão repentinamente quanto começou, aquele efeito passou. Tentei acender outro cigarro, por minha própria conta e tossi violentamente, a boca amargou e lancei-o bem longe de mim. Rindo, a bondosa velhinha explicou que eu senti aquela vontade por que era a vontade do preto-velho que estava perto de mim e que trabalharia futuramente comigo. Tempos depois, quando já estava mais seguro da incorporação com o preto-velho, este pediu um “pito de palha”, acendeu e puxou aquela fumaça. 

Como não tinha hábito de fumar, creio ter exagerado na força de sucção. O resultado? Tossi violentamente, quase a ponto de cortar o transe por completo. Levaria uns três meses para que eu me acostumasse com o cigarro de palha e quase um ano para me acostumar com o gosto de charuto. Muitas pessoas ainda me perguntam se isso não me faz mal à minha saúde e a resposta é um singelo: não! As entidades não engolem a fumaça. 

Apenas a retém na boca tempo suficiente para misturá-la com as energias do médium ou para absorver a energia que da fumaça se desprende, expelindo-a depois sem maiores problemas. Ainda hoje, porém, incomoda-me o cheiro do charuto no corpo após os trabalhos. Chegando em casa tomo um demorado banho a fim de me libertar desse cheiro. 

O amargor que o charuto deixa em minha língua permanece por horas, só cedendo quando escovo os dentes com água quente do chuveiro e faço, em seguida, bochecho com enxaguante bucal (fica a dica!). 

Obs.: Se você é sensível ao gosto do fumo na boca, tome muita água após a gira. Isso evita dores de cabeça!

Leonardo Montes

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