Eu me desenvolvi numa casa em que se trabalhava com: preto-velho, caboclo, criança, baiano, cigano, exu, pombagira e malandro. E, quando fundamos nosso terreiro, continuamos com todas essas linhas.
Contudo, eu sempre senti muita dificuldade em incorporá-las todas, não pelas entidades, claro, mas pela falta de hábito. As principais manifestações eram: preto-velho, caboclo e exu. As demais, apenas eventualmente incorporávamos. Resultado: as linhas frequentes, tudo certo. As linhas eventuais, incorporações inseguras.
Comecei a observar a mim mesmo, a avaliar com frieza as manifestações que aconteciam por meu intermédio, posteriormente, observei outros tantos médiuns, em diversos terreiros e conclui que o melhor é trabalhar com poucas linhas.
Antigamente, os médiuns trabalhavam com uma única entidade ou, quando muito, com duas. Tanto é que, tradicionalmente, o médium era conhecido pelo nome da entidade com quem trabalhava, por exemplo: Fulana da cabocla Tal, Sicrano do preto-velho X, Beltrano do exu Y, e assim sucessivamente.
Não era comum as pessoas incorporarem cinco, seis, sete linhas diferentes, sendo esta uma situação bem mais recente no universo da Umbanda.
Mas, por que cheguei a esta conclusão? Explico!
Eu observei diversos médiuns em atividade, tanto em nossa casa, quanto em outras e percebi que a maioria (e certamente me incluo), consegue trabalhar bem com duas ou três linhas diferentes, além disso, começam a misturar as coisas.
Eu via, por exemplo, caboclos que pareciam baianos; baianos que pareciam marinheiros; marinheiros que pareciam caboclos, etc. Às vezes, só conseguia distinguir a linha que estava atuando por saber previamente como seria o trabalho. Era nítido como alguns médiuns pareciam desconfortáveis em receber esta ou aquela linha.
E, sinceramente, não creio que isso se deva a qualquer falha dos médiuns: simplesmente, não há plasticidade mediúnica para “caber” tantas personalidades diferentes no aparelho psíquico do médium. E isto ocorre, inclusive, com médiuns inconscientes!
Eu conheci alguns que trabalhavam maravilhosamente bem com pretos-velhos e caboclos, mas já não trabalhavam tão bem com baianos ou malandros, por exemplo. Então, por mais que alguém tenha uma mediunidade “forte”, mesmo ela possuirá limites.
Por isso, conclui que é melhor trabalhar com duas ou três linhas e trabalhar de maneira firme e confiável, do que com seis ou sete de maneira imprecisa e insegura!
— Ah, mas as outras linhas não ficarão tristes?
— Não, não ficarão. Quem tem esse apego somos nós, não eles. Além do mais, continuarão a auxiliar da mesma forma, apenas não incorporarão mais.
— Ah, mas como decidir com quais linhas trabalhar?
— Isso é com cada terreiro.
Não há linhas melhores ou piores do que outras. O que existe é a diretriz da casa. Em nosso caso, são caboclos e pretos-velhos as linhas principais.
Cada casa com sua diretriz!
Eu penso que este processo de diminuição das linhas de trabalho seja fundamental para que os terreiros passem a ter mais qualidade mediúnica em seus trabalhos.
Leonardo Montes
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