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Dentro de um terreiro, todos
são irmãos. É o que dizem frequentemente as entidades. Por esta razão, gosto de
pensar em “irmandade” como um sentimento a ser cultivado tendo em vista um fato
em comum: o pertencimento ao terreiro.
Conflitos
Muitas pessoas esperam o
terreiro ideal (diga-se, perfeito), para poderem assumir o compromisso do
trabalho espiritual. Contudo, infelizmente, elas apenas esperarão, pois não
existe (e não existirá tão cedo), uma instituição humana perfeita e o terreiro
não é exceção.
Em todos os terreiros existem
conflitos.
É preciso não esquecer que,
geralmente, a espiritualidade chama os devedores ao trabalho espiritual e não
os que já saudaram a sua dívida para com a vida. Por esta razão, em um
terreiro, encontramos as mais diversas pessoas, com as mais diferentes virtudes
e os mais diferentes defeitos.
Isto vale para todos, sem
exceção!
Ao unir pessoas tão diferentes
num espaço em comum, logicamente, surgirão conflitos. Assim, a discussão não é propriamente
sobre a existência ou não de conflitos, mas como administrá-los e, na medida do
possível, resolvê-los.
Orientar e controlar
Também já tivemos ocasião de
estudar, brevemente, a diferença entre esses dois conceitos. Agora, porém, é a
hora de nos aprofundarmos um pouco mais.
Orientar pode ser entendido
como: indicar a direção. Controlar pode ser entendido como: fiscalizar
a conduta alheia.
O terreiro deve ensinar a
religião aos interessados de maneira simples, descomplicada e facilmente
compreensível por todos, sem jamais esquecer que há uma lei regendo as ações
humanas: o livre-arbítrio, que faculta a cada um segundo suas obras.
As pessoas são livres para
agir e encararão as consequências de seus atos. Assim, não há razão para os
dirigentes se inquietarem com o comportamento dos membros fora do terreiro,
afinal, a vida lhes pertence e eles podem fazer o que bem entenderem.
Um exemplo.
Certa feita, uma entidade me
disse:
- Estamos fazendo o possível
para ajudar fulano (cambone), porém, ele anda resistindo. Está muito triste e
voltou a fumar maconha.
Imediatamente, minha reação
foi de repulsa, dizendo:
- Como vocês permitem que ele
continue trabalhando?
Ao que a entidade me
respondeu:
- Filho, ninguém concorda com
isso. Mas, antes ele fumar lá fora e a gente socorrê-lo aqui dentro, do que
tirá-lo daqui para que apenas fume lá fora.
A espiritualidade é muito
sábia!
Meu primeiro impulso, sem o
menor receio, foi o de julgá-lo, pensando que a presença dele num trabalho
espiritual seria fonte de desequilíbrios, ao passo que as entidades, mais
sábias, viam uma excelente oportunidade de ajudar um irmão em desajuste
momentâneo...
Claro que, no caso em
específico, o cambone fumava apenas eventualmente, quando não se sentia bem.
Não era uma prática que pusesse em risco o trabalho espiritual que ele executava
e as entidades não deixaram de orientá-lo no que fosse preciso...
Assim, uma das formas de
minimizar conflitos, da parte dos que conduzem o terreiro, é compreender
claramente os limites entre orientar e controlar, exigindo, sim, dentro
do terreiro, que as normas sejam cumpridas e que lá fora, na vida cotidiana,
cada um viva como achar melhor, pois todos nós prestaremos contas de nossos
atos à Deus e não ao próximo...
O(s) dirigente(s)
Na internet, abundam
reclamações contra dirigentes ou contra a diretoria das casas. Por vezes, estas
reclamações possuem fundamento, outras vezes, nascem apenas da ingratidão. Seja
como for, precisamos refletir.
Já tivemos oportunidade de
estudar que o(s) dirigente(s) são pessoas comuns, recheadas de problemas e dificuldades
como todo mundo, porém, com um pouco mais de responsabilidade: a de conduzir
um trabalho espiritual.
Infelizmente, muitos dirigentes
comportam-se como se fossem reis, exigindo lealdade e subserviência como se tratassem
com vassalos e não com companheiros de jornada.
Assim, não é tão raro
encontrar pessoas que extrapolam suas funções espirituais, agindo de maneira leviana
ou mesmo desleal, ameaçando quem os critique ou confronte e, neste caso, a
minha sugestão pessoal é: nem perca seu tempo batendo de frente, a vida
passa depressa demais e enquanto você perde tempo reclamando do que seu
dirigente deveria ser, o tempo para que você seja algo acaba se esgotando...
Por outro lado, às vezes, o
dirigente erra tentando acertar e talvez não consiga por falta de suporte. Assim,
se boa parte dos que criticam resolvessem arregaçar as mangas, talvez as coisas
fluíssem melhor para todos. É uma questão de postura!
Terreiro em construção
Existe um forte apelo ao
tradicionalismo na Umbanda, onde geralmente se procura preservar normas e
costumes. Contudo, nenhum terreiro para no tempo. As relações e práticas são reinventadas
o tempo todo.
Assim, o meu conselho, tanto
para dirigentes quanto para trabalhadores, é: vejam o terreiro como um
organismo vivo, crescendo, se adaptando e evoluindo conforme as
necessidades do cotidiano.
Por isso, procuremos sempre
estar abertos às sugestões que chegam de todos os lados, avaliando as opções e
mudando, se for necessário. Se todas as pessoas que fazem parte de uma casa se
sentirem responsáveis por sua manutenção, quem ganha é o próprio terreiro.
Resolução de conflitos
Em um espaço religioso, o que
nunca nos deve faltar é a tolerância e o diálogo, especialmente, entre os mais
difíceis que, frequentemente, são os que mais precisam de atenção e cuidado.
Assim, a obtenção da irmandade
se adquire com o exercício da fraternidade, através do exercício da tolerância,
do respeito e da boa-vontade em todos os níveis nas relações de terreiro.
Quando alguém veste o branco e
se coloca como trabalhador espiritual, o que nunca deve esquecer é o
compromisso assumido e a razão de estar ali dentro. Se por ventura a
convivência se tornar difícil, é este sentimento que deve guiar o coração do
trabalhador enquanto seus olhos não enxergarem uma solução pacífica.
Se todas as pessoas cuidassem
dos próprios afazeres, colaborando umas com as outras por espírito de serviço,
as diferenças seriam colocadas de lado e o terreiro poderia se tornar,
verdadeiramente, uma segunda casa para todos.
Portanto, diante de conflitos,
quaisquer que sejam, busquemos sempre em Deus, com auxílio das entidades, as
soluções justas, a fim de que possamos produzir e, produzindo, ajudemos a
melhorar um pouco este mundo.
Quando um terreiro fecha, é
uma luz que se apaga na Terra!
Até a próxima aula!
Leonardo Montes
Metade dos problemas de convívio entre irmãos é devido a falta de educação e respeito
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