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Funções mentais
Para que possamos agir
livremente neste mundo, precisamos contar com um bom cérebro. Este, pode ser entendido
como um valioso computador que nos permite sentir e analisar o mundo a nossa
volta, nos dando a capacidade de interagir com tudo que nos cerca.
Entre as principais
funções mentais, podemos destacar: atenção, sensação, percepção, pensamento,
memória, consciência, etc.
Como se pode notar, por
estes breves exemplos, nosso cérebro é capaz de analisar tanto estímulos
internos quanto externos para que possamos nos orientar no mundo em que nos
encontramos.
Perceba que consciência
e memória são funções mentais distintas. A consciência nos permite a lucidez da
experiência que vivenciamos, enquanto a memória garantirá que deixemos algum
registro dessa experiência arquivada.
Contudo, mesmo sendo
funções distintas, elas se entrelaçam e se cruzam, por que o cérebro trabalha
como um todo. No futuro, os estudiosos em matéria de mediunidade terão
condições de analisar este fenômeno e suas implicações nas diversas funções
mentais.
Transe mediúnico
Durante a incorporação,
o médium entra no que se convencionou chamar de “estado alterado de consciência”, quando há profundas alterações no funcionamento psíquico do
sujeito, durante um determinado período, geralmente, do contexto mediúnico em
que ele se encontra.
Todo médium entra em
transe. Porém, a “profundidade” deste transe varia de acordo com cada médium e
mesmo de acordo com as circunstâncias do momento.
Em geral, os médiuns de
incorporação se definem como: conscientes, semiconscientes ou inconscientes.
Existem alguns estudos científicos que buscam entender essas variações dos
níveis de consciência durante as atividades mediúnicas.
Conscientes
Atualmente, cerca de
90% dos médiuns são conscientes. Nesta modalidade de transe mediúnico, o médium
sente um leve torpor percorrer o seu corpo, notando profundas alterações em sua
postura corporal, embora ainda tenha controle sobre seus movimentos,
pensamentos e fala, sentindo como se uma voz lhe guiasse os movimentos e
impulsionasse seus pensamentos.
É, portanto, o gênero
mais comum de incorporação na atualidade em todas as correntes espiritualistas,
não sendo, portanto, uma exclusividade da Umbanda.
De modo geral, o médium
consciente age como alguém que é guiado por uma força oculta, como se, no
momento do transe, a entidade sussurra-lhe ao pé do ouvindo o
que deveria fazer ou falar.
Assim, embora comum,
este gênero de mediunidade implica alguns desafios pois, com frequência, boa
parte dos médiuns se sentem inseguros, demorando bastante tempo para discernir
o que sejam pensamentos/impulsos seus e pensamentos/impulsos dos guias
espirituais.
Durante o transe, têm a
impressão de que são eles mesmos que falam, gesticulam e agem, o que faz com
que muitos se frustrem em relação à própria mediunidade, pois imaginavam que
seriam tomados pelo espírito...
Ao fim do transe,
costumam reter integralmente o que viram e ouviram durante as consultas,
guardando viva memória de tudo que foi dito na gira, o que exige destes médiuns
sempre um posicionamento ético bastante claro (não se deve levar nada para fora do terreiro).
Semiconscientes
Cerca de 9% dos médiuns
são semiconscientes. Neste tipo de transe, o médium ainda têm a percepção da
realidade ao seu redor, observando tudo que acontece durante o trabalho
mediúnico, porém, com controle motor severamente reduzido, embora ainda possa
intervir nos movimentos e nas falas das entidades, encontra-se como alguém
“desapropriado” do próprio corpo que passa a agir independentemente da sua
vontade.
Enquanto o médium
consciente é guiado por uma voz interna ou uma vontade súbita que lhe diz o que
fazer: levanta, agacha, pega isto, pega aquilo, no transe semiconsciente
o médium simplesmente faz essas coisas sem que necessariamente ter a impressão que alguém lhe dirige. Pode mesmo estar pensando em outras coisas e observar seu
corpo agindo “sozinho”.
Neste tipo de transe, o
guia possui um maior controle corporal do médium e maior capacidade de expressão, embora ele ainda esteja ciente de
tudo que ocorre ao seu redor, praticamente assiste o trabalho como alguém que
estivesse sentado no banco do passageiro, enquanto outra pessoa dirige o carro.
Ao fim do transe,
geralmente retêm na memória apenas partes dos atendimentos, sendo comum que
ocorra embaralhamento das suas lembranças ou episódios de completo esquecimento do que
foi dito em determinado período.
Inconscientes
Apenas 1% dos médiuns
são inconscientes na atualidade. Neste tipo de transe, o médium tem pouquíssimo
contato com a realidade. Encontra-se na situação de alguém que dorme ou que
desmaia (pois a sensação da perda de consciência é semelhante a de um desmaio).
Neste tipo de transe, o
guia tem controle quase absoluto do corpo do médium, agindo e falando
livremente, praticamente sem interferência do próprio médium.
Este tipo de transe, ao
permitir que a entidade se manifeste mais livremente, é o que mais contribui
para obtenção de provas convincentes e mesmo irrefutáveis para quem se
consulta, pois as entidades conseguem falar de forma direta com o consulente
sem sofrer castração de suas ideias pela insegurança do médium, que pode
influir decisivamente no que é dito ao consulente nos demais tipos de transe.
Quando retornam do
transe, os médiuns geralmente não se recordam de nada do que foi dito na
consulta. Contudo, eventualmente, podem se lembrar, principalmente quando os
guias querem que aprendam algo, o que faz com que muitos médiuns inconscientes
fiquem confusos, pois julgam que necessariamente eles nada deveriam recordar.
Entretanto, lembra-se
que, no começo do texto, eu disse que consciência e memória são funções mentais
distintas? Acredito que os estudiosos da mediunidade no futuro perceberão que
em algumas situações, os médiuns inconscientes sejam capazes de se recordar de
algo ocorrido durante o transe sem, necessariamente, estarem conscientes,
justamente, por que memória e consciência são funções mentais distintas.
Variabilidade
Embora eu tenha dito
que 90% dos médiuns sejam conscientes, 9% semiconscientes e apenas 1%
inconscientes, é preciso dizer que existem muitos graus entre um estado e outro
e que embora os médiuns possam, de fato, ser agrupados nestas três categorias
no que se refere à experiência do transe, é preciso não esquecer que ela pode
variar em intensidade e mesmo em graus, dependendo da necessidade.
Para abordar este assunto de forma mais clara, trarei meu próprio exemplo pessoal.
Eu já tive experiências, como médium consciente, em que sentia o transe fraco, quase por um fio e já tive experiências que, mesmo consciente, sentia o transe forte o suficiente para fazer "a carne pular", como se costuma dizer.
Na imensa maioria das
vezes em que atuei incorporado, eu certamente seria encaixado na categoria dos
médiuns conscientes. Contudo, no último ano, tenho tido experiências que variam
entre conscientes/semiconscientes, sendo comum que eu comece o transe de
maneira consciente e gradativamente me torne semiconsciente.
Apenas uma vez tive,
repentinamente, a experiência da inconsciência e não foi nada agradável,
justamente, pela sensação de desmaio que, chegando repentinamente, me deu a
impressão de que estava passando mal...
Assim, embora realmente
a maioria dos médiuns se encaixe numa dessas categorias, pode ser que, às vezes,
ela varie e pode mesmo acontecer que mude, tanto um médium consciente pode se
tornar inconsciente quanto um inconsciente pode se tornar consciente.
Depende muito da tarefa
espiritual de cada um, mas acontece.
Insegurança
Os médiuns conscientes,
pelo gênero de sua mediunidade, sofrem terrivelmente com a insegurança,
justamente, por que imaginavam que simplesmente “apagariam” e que o guia viria
para tudo fazer.
Assim, não é incomum
desejarem perder a sua consciência ou mesmo se frustrarem com a profundidade do
próprio transe.
Se, a princípio, a
insegurança surge como fator preponderante nesta modalidade, ela logo deixa de
importar se o médium for uma pessoa segura, disciplinada e com fé robusta,
porém, tende a persistir se o médium for, ao contrário, uma pessoa insegura,
indisciplinada ou de fé vacilante.
O fato, contudo, é que
todo médium, em maior ou menor grau, experimentará inseguranças e incertezas,
isso faz parte do processo de aprendizado mediúnico.
A este respeito, é
preciso dizer o seguinte: quanto mais o médium trabalha, mais seguro ele se
torna, mesmo que continue sempre consciente. É o que o “Velho” sempre me
ensinou: não é a consciência que você precisa perder, mas a fé que precisa ganhar.
Não importa o grau de
consciência
Você deve estar
pensando que seria muito melhor se todos os médiuns fossem inconscientes e que
o médium consciente mais atrapalhado que ajuda, certo? Porém, não é bem assim.
Realmente, o médium
inconsciente, por não interferir diretamente no que a entidade faz ou fala, é
capaz, por isso mesmo, de produzir fenômenos muito impressionantes, quando as
entidades dizem coisas extremamente pontuais e certeiras sobre o consulente,
vou dar um exemplo:
Certa feita eu estava
angustiado com uma situação cujo desfecho afetaria profundamente a
minha vida. Antes de sair de casa, para o terreiro, lembro-me de ter
contemplado a lua cheia e com toda a força da minha fé, enderecei uma
oração/pedido de ajuda, a uma cabocla por quem tenho muito respeito,
dizendo-lhe mentalmente a razão da minha angustia. A médium nada sabia.
Chegando no terreiro,
tão logo o trabalho se inicia (era uma gira de pretos-velhos), a referida
médium recebe a cabocla que, pedindo licença ao trabalho da noite, fez um
sinal para que eu me aproximasse, dizendo:
- Filho, eu escutei a
sua oração e o conselho da cabocla sobre o que você me pede é este.
Eu fiquei
impressionado. Não era dia dela se manifestar, mas atendendo ao pedido que lhe
fiz, ela veio e me orientou exatamente sobre o que eu queria saber de forma
certeira e precisa.
A médium era
inconsciente. Contudo, se fosse consciente, isso seria possível?
A resposta é: sim,
seria possível, embora improvável.
Isso porque o médium
inconsciente, justamente por não intervir diretamente na manifestação, deixa a
entidade agir livremente. Já o médium consciente, principalmente o inseguro,
censura o tempo todo o que a entidade vai dizer, passando apenas aquilo que
julga adequado.
No caso em questão,
mesmo que o médium consciente sentisse a vibração da cabocla, em um trabalho de
preto-velho, ele provavelmente julgaria que estava sentindo errado, forçando a
entidade a se afastar e inviabilizando a consulta nestes termos.
Logo, o problema não é,
exatamente, o tipo de transe mediúnico, mas a segurança do médium em transmitir
corretamente o que o guia deseja transmitir.
Em outro exemplo:
A entidade manifestando-se em um médium
inconsciente chama o cambone, entrega-lhe uma rosa e diz:
- Dê para sua tia
Fátima, dizendo-lhe que as dores logo passarão.
Num médium consciente, a
entidade diria a mesma coisa. Mas, racionalizando, em milésimos de segundo, o
médium se pergunta: ele tem uma tia chamada Fátima? E se não tiver?
Então, cerceia o que a
entidade gostaria de dizer e apenas fala:
- Dê para sua tia (sem
citar o nome, barrado pela insegurança) e diz que suas dores logo passarão.
Percebem? Não é questão
de ser consciente ou inconsciente, mas de ter fé em Deus e nos próprios guias!
Revelações espirituais
Intrigado com esses
dramas mediúnicos, conversei exaustivamente com os guias sobre isso e o que me
revelaram foi o seguinte:
A inconsciência na
incorporação era característica comum dos médiuns no início do século passado,
tanto no Espiritismo quanto na Umbanda, pois estes médiuns eram pessoas de
“rija têmpera”, chamados a desempenhar um papel muito difícil, num mundo ainda
cercado de preconceitos.
Cabia aos guias destes
médiuns abrirem caminhos espirituais na Terra, o que exigia maior domínio sobre
os corpos dos mesmos para que os fundamentos e as diretrizes de cada movimento
fossem muito bem delineados.
Com o correr dos anos,
conforme houve expansão das religiões em diversos agrupamentos por todo o
Brasil, tendo solidificado cada um destes movimentos, houve uma modificação no
processo mediúnico: diminuíam-se cada vez mais os inconscientes e aumentavam-se cada vez mais os conscientes.
Entendia a
espiritualidade que, por um lado, a inconsciência favorecia a manifestação
espiritual, contudo, privava o médium da vivência, do aprendizado e da
experiência e já que as grandes linhas espirituais estavam solidificadas, não
havia mais razão para manter os trabalhadores espirituais em estado de
inconsciência.
Era comum o médium
inconsciente nada saber (e é daqui que vem a aversão ao estudo de algumas
casas), pois o médium entrava em transe, a entidade vinha, fazia tudo e ao
final, cabia ao médium simplesmente seguir as orientações que o guia deixava
com o cambone e pronto.
O médium não tinha
experiência alguma no terreiro, não aprendia com a dor do consulente, não
conseguia ouvir de seus próprios guias os conselhos dados e que poderiam lhe
ser úteis, igualmente.
Em suma: o papel do
médium era incorporar, apenas.
Atualmente, o quadro é
diverso. O médium é chamado a ser parceiro da entidade, partícipe do trabalho,
desempenhado em dupla: entidade/médium. À medida que aprende, o médium encontra
valiosos recursos para modificar a si mesmo, tornando-se uma pessoa melhor,
mais conscientizado de seu papel no mundo, um verdadeiro porta-voz da religião
por si mesmo. Os caminhos espirituais já estão solidificados na maioria das
religiões, cabendo apenas aos médiuns seguirem as diretrizes estabelecidas em
cada culto.
Perguntei-lhes o motivo
de ainda existirem médiuns inconscientes, então. E o que me responderam foi o
seguinte:
Desses 1% de médiuns
que ainda são inconscientes, a maioria o são por falta de opção. São pessoas de
temperamento difícil que se não fossem “apagadas” durante o transe mediúnico,
não conseguiriam trabalhar uma única gira sequer.
Devo dizer que
concordo.
Dos três médiuns inconscientes que já conheci nesta vida, todos são
pessoas de temperamento muito complicado, convivência difícil e eles mesmos
diziam que se não fossem inconscientes, não trabalhariam de forma alguma na
mediunidade.
Os poucos médiuns
inconscientes que não se encaixariam nesta descrição são aqueles a quem cabe
desempenhar uma tarefa muito específica, uma espécie de missão em determinado
contexto que exija maior domínio das entidades para sua realização.
Até a próxima aula!
Leonardo Montes
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