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A “linha dos ciganos” é
composta por espíritos que viveram entre os ciganos, no Brasil ou no exterior
(sendo muito comum a descendência hispânica). São entidades festivas, alegres e
que mexem muito com o imaginário popular por terem um “ar de sensualidade” e
mistério.
Linha do Oriente
Em meados da década de
1940 (década do orientalismo na Umbanda), diversos terreiros começaram a
trabalhar com uma linha “nova”, denominada: linha do oriente.
Nesta linha,
manifestavam-se espíritos de ciganos, monges, celtas, egípcios, chineses, etc.
Uma gama vasta e plural de entidades provenientes dos mais diversos povos.
As giras com os ciganos
se tornaram tão populares que, desde então, foi organizada, no astral, um
trabalho próprio, independente da linha do oriente (embora ainda existam
ciganos vinculados a esta) e que hoje atuam nos terreiros à sua própria
maneira.
Preconceito
Nada revela mais a
nossa hipocrisia do que o trabalho com os ciganos e eu vou explicar o motivo.
Eu cresci ouvindo falar
mal dos ciganos, que eram pessoas ruins, ladrões, assassinos e que jamais devia
fazer negócios com um. Isso era tão claro em minha mente que só depois da
Umbanda parei para refletir neste preconceito que se tornou um verdadeiro
conceito social.
Mesmo dentro do
terreiro, por vezes, escutei as pessoas falando que os ciganos que haviam aqui
em Uberaba não tinham nada a ver com os ciganos que vinham no terreiro, que
estes últimos eram “nobres” e outras tantas tolices.
Claro, sem dúvida,
existem ciganos que são tudo de ruim que se possa imaginar, assim como existem
negros, brancos, índios, mulatos, nessa mesma condição, pois nunca se tratou de
um problema étnico, mas de uma questão moral.
Assim, ainda hoje,
quando vamos trabalhar com os ciganos, penso sempre em todos os anos de
preconceito que cultivei em mim mesmo de forma irrefletida, julgando todo um
povo e sua rica história por uma série de preconceitos e discriminações a que
somos expostos desde a infância.
Quando fazemos gira com
os ciganos, o terreiro lota. Mas, quando cruzamos com um na rua, mudamos de
lado da calçada... É ou não é uma bela hipocrisia?
Mobilidade
Ao contrário do relato
das demais entidades que frequentemente dividem seu tempo entre as esferas
espirituais e a Terra, a maioria dos ciganos permanece por aqui mesmo, de
maneira itinerante, indo e vindo, visitando outros terreiros, outras cidades,
sem uma base fixa de atuação.
Quando chegam para
trabalhar em um terreiro, costumam levantar um acampamento em alguma área verde
próxima e os médiuns logo sentem, durante os dias que antecedem o trabalho, uma
misteriosa aura de alegria e paz os envolvendo.
Futuro
Sem dúvida, o aspecto
que desperta mais interesse e curiosidade nos leigos são as previsões sobre o
futuro. Trata-se de uma linha muito hábil neste sentido, embora nem todas as
entidades atuem assim.
Seja através do baralho
cigano, das linhas das mãos ou numa taça de vinho, alguns ciganos realmente
possuem a habilidade de ver o futuro de forma mais ou menos clara.
A explicação para essa
previsibilidade é a seguinte:
Alguns ciganos têm a
capacidade de penetrar a dimensão temporal. Frequentemente, eles descrevem o
tempo como o fluxo de um rio, dizendo que conseguem visualizar, com base na
energia da pessoa, uma série de desdobramentos que se apresentam como visões
mais ou menos nítidas e, por isso, mais ou menos precisas dos acontecimentos
futuros.
Entretanto, essa visão
do futuro não é determinista. Eles conseguem ver probabilidades, consequências
do que advirá se a pessoa continuar naquele caminho. Contudo, se a pessoa muda
seu caminho, o resultado do futuro muda também.
É comum dizerem,
também, que não possuem visão ilimitada sobre o que há de vir e nem sempre
conseguem responder às ânsias do consulente: veem aquilo que Deus lhes permite
ver, nada mais, até por que o que é visto e dito numa consulta com um cigano é
apenas o que pode ser alterado pela pessoa sem prejuízo geral para sua
caminhada na Terra, pois do contrário, estariam interferindo no livre-arbítrio,
o que seria uma violação de uma lei Divina.
Estereótipo
Creio que a liberdade
seja a característica mais determinante destas entidades. São as que mais
abordam esse assunto, incentivando o consulente a descobrir e a trilhar seu
próprio caminho, nunca se comparando com outras pessoas: cada um é único, tem
um passado único e um caminho único na Terra. A felicidade consiste em
descobrir este caminho e trilhá-lo e não imitar o outro.
São entidades
geralmente “alto astral”, sempre disposta a colocar o consulente para cima, a
fazer com que perceba a beleza da vida na música, na dança, na natureza e na
família.
Os ciganos, geralmente,
dão muito valor à família, tanto consanguínea quanto espiritual, falando com
frequência da importância dos laços afetivos na construção de uma vida digna e
boa.
Adereços
Alguns ciganos pedem
adereços como: pano de cabeça, braceletes, pulseiras, leques, etc.
Obs.: Em geral, os
terreiros permitem que os médiuns vistam roupas coloridas, o que dá a este
trabalho um charme próprio. Contudo, é preciso sempre estar em guarda... Já vi
muitos médiuns que se “travestiam” de ciganos e, não raro, passavam a agir como
se fossem um...
Pombagira cigana
Uma das perguntas mais
comuns, é: qual a diferença entre uma cigana e uma pombagira cigana? A resposta
é simples:
- Se a entidade se
apresenta como uma cigana, então, pertence a linha dos ciganos; Se ela se
apresenta como pombagira cigana, então, é uma entidade de origem cigana que não
atua na linha dos ciganos e, sim, na linha das pombagiras, possivelmente, por
fatores pessoais que a inserem melhor neste contexto espiritual.
Não há nada de errado
nisso.
Conclusão
O trabalho com os
ciganos, sem dúvida, tem uma aura mística e profunda. É um trabalho de beleza
singular e que nos lembra sempre que a vida, por mais sofrida, pode ser vivida
sem tantas correntes, cada um buscando seu próprio caminho, seu próprio jeito
de ser feliz.
A capacidade que estas
entidades têm de ver o futuro apenas aumentam a nossa responsabilidade sobre o
presente, sobre nossas ações e o quanto podemos construir um futuro de paz ou
de dor conforme nossos próprios atos.
Até a próxima aula!
Leonardo Montes
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