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A chamada “linha dos caboclos” é formada,
preponderantemente, por espíritos que viveram entre os povos nativos do Brasil.
Porém, eventualmente, espíritos que viveram entre outros povos nativos, por
toda a América, também se manifestam.
Colonização
Os povos nativos da América vieram, na verdade,
da Sibéria, através do estreito de Bering. Porém, devido a elevação do nível do
mar, impedindo o retorno, acabaram por ocupar todo o continente, num processo
que levou milhares de anos, produzindo variedades culturais e étnicas, dando
origem a centenas, talvez, milhares de povos por todo o continente.
Estes povos permaneceram isolados do restante
do mundo até a chegada dos espanhóis e, posteriormente, dos portugueses,
ingleses, franceses, holandeses, etc.
Esse movimento migratório e de ocupação das
terras por povos Europeus ficou conhecido por colonização e se deu, justamente,
quando havia tecnologia suficiente para que os homens pudessem cruzar os mares
e romper com as fronteiras.
Contudo, assim como ocorreu com a escravidão,
os povos que invadiram as novas Terras, ao invés de trazerem a bandeira da
fraternidade e da comunhão humana, trouxeram a guerra e a destruição.
O choque cultural, étnico e religioso foi
inevitável e os povos nativos da América praticamente foram dizimados, em
momentos e por razões diferentes em cada parte do continente, mas o resultado
foi inevitavelmente o mesmo, de tal sorte que hoje pouquíssimos povos ainda
resistem.
É deste choque cultural que nasceu, no plano
espiritual, a linha dos caboclos. Curiosamente, o termo “índio” vem de Índia (o
país), pois Colombo acreditava que as terras por ele “descobertas” eram, na
verdade, uma rota alternativa para a Índia.
Entretanto, na Umbanda, o termo que se
popularizou foi “caboclo”, que é a mistura “racial” de brancos e indígenas (e
em alguns momentos, com negros também). Assim, atuam na linha dos caboclos,
espíritos que viveram entre os povos nativos ou seus descendentes mestiços com
brancos ou negros.
Logo, todo caboclo foi um índio ou um mestiço,
mas nem todo índio ou mestiço atua como um caboclo. Atuam assim aquelas
entidades que alcançaram patamar espiritual para se tornarem guias, o que
demanda elevação espiritual.
Força
Uma característica comum dos espíritos que
atuam nesta linha é a força. São manifestações intensas, vibrantes, carregadas
de vigor. Não raro, quando uma entidade se manifesta, a primeira coisa que faz
é emitir o seu brado (que é como um grito de guerra).
Claro, nem todos os caboclos se manifestam
assim, mas é uma característica comum desta linha.
Embate aos obsessores
Embora hoje se atribua o enfrentamento aos
obsessores aos exus (o que não deixa de ser também verdade), inicialmente, na
religião, esse enfrentamento era feito pelos caboclos que também faziam a guarda
e proteção do médium.
Eram entidades muito temidas pelas falanges das
sombras, pois os caboclos, com sua garra e vigor faziam tremer os espíritos
mais frágeis que, não raro, fugiam tão logo viam se aproximar um caboclo.
Sinceridade
Outra característica comum desta linha é a
sinceridade. Os caboclos, de modo geral, são entidades muito sinceras e, por
vezes, até temidas, pois falam com energia e propriedade, embora também saibam
ser acolhedores e amigos.
São entidades que quando prometem ajudar alguém,
não medem esforços para tudo fazer em benefício do próximo.
Domínio das ervas
Embora muitas pessoas associem o conhecimento
das ervas com os pretos-velhos, na verdade, estes aprenderam com os caboclos,
pois quando vieram da África para o Brasil, encontraram aqui uma diversidade de
plantas que eram desconhecidas para eles.
Foram os índios que ensinaram os escravos sobre
as plantas. Assim, não raro, os caboclos conhecem e dominam o uso das ervas
como ninguém, tanto no que se refere ao seu aspecto energético quanto
fitoterápico.
Adereços
Alguns caboclos pedem adereços como: uma pena,
um chocalho, uma fita, um cocar, etc.
Elementos
Embora se associe o cachimbo com os
pretos-velhos, este instrumento foi inventado, na verdade, pelos índios que, na
Umbanda, tradicionalmente, preferem o charuto.
Como os povos que naturalmente descobriram o
tabaco e suas aplicações religiosas, os caboclos são mestres no uso desse
elemento, promovendo muitas limpezas espirituais à base da fumaça de seus
charutos.
Também trabalham muito com ervas durante os
passes, seja para extrair uma energia, seja para passa-la diretamente no corpo
do consulente.
Na esquerda
Alguns caboclos também se manifestam na
esquerda, o que é raro atualmente, embora, no passado, tenha sido bem comum,
principalmente pela característica do combate aos obsessores. Eram os chamados
“caboclos quimbandeiros”.
Ainda hoje, contudo, muitos caboclos se
responsabilizam por acompanhar os obsessores. Quando temos reuniões de
desobsessão, por exemplo, é comum que os exus levem tais espíritos até a porta
do terreiro e que os caboclos se responsabilizem por eles lá dentro.
Estereótipo
Os caboclos, quase sempre, se manifestam de
forma ereta e vigorosa. Bradam muito alto, batendo o braço direito no peito do
médium. Geralmente se mostram enérgicos e disciplinadores, sempre dispostos a
encaminhar corretamente o consulente para que não se perca pelos labirintos da
vida.
Mesmo quando se manifestam em pessoas franzinas,
durante o transe, os médiuns assumem aspecto altivo e imponente, inclusive
quando se manifestam em mulheres, o que frequentemente causa algum espanto aos
consulentes leigos, quando veem “aquela senhorinha, com aquele caboclão”, como
se costuma dizer.
Claro, nem todos os caboclos agem assim, embora
seja uma característica comum desta linha.
Conclusão
As linhas primordiais da Umbanda são a dos
caboclos e dos pretos-velhos, justamente, por terem sido duas linhas
fundamentais para construção desta nação e que surgiram em contextos de
exploração, violência, guerra e escravidão.
Gosto de pensar nos caboclos como o outro lado
da balança do amor: a disciplina, pois enquanto os pretos-velhos, geralmente,
se destacam por serem figuras amorosas, carinhosas e acolhedoras, os caboclos
se destacam por serem entidades enérgicas e disciplinadoras, mostrando que
ambas as coisas são necessárias para se seguir corretamente pelos caminhos
deste mundo.
Até a próxima aula!
Leonardo Montes
Gostei muito bom os textos amei saber um pouco sobre nossos amados caboclos.
ResponderExcluirGrato. Nos ajude, compartilhando!
ExcluirMuito esclarecedor ! Grato !
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