CURSO BÁSICO DE UMBANDA - CAP. 38 - CABOCLOS

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A chamada “linha dos caboclos” é formada, preponderantemente, por espíritos que viveram entre os povos nativos do Brasil. Porém, eventualmente, espíritos que viveram entre outros povos nativos, por toda a América, também se manifestam.


Colonização

Os povos nativos da América vieram, na verdade, da Sibéria, através do estreito de Bering. Porém, devido a elevação do nível do mar, impedindo o retorno, acabaram por ocupar todo o continente, num processo que levou milhares de anos, produzindo variedades culturais e étnicas, dando origem a centenas, talvez, milhares de povos por todo o continente.

Estes povos permaneceram isolados do restante do mundo até a chegada dos espanhóis e, posteriormente, dos portugueses, ingleses, franceses, holandeses, etc.

Esse movimento migratório e de ocupação das terras por povos Europeus ficou conhecido por colonização e se deu, justamente, quando havia tecnologia suficiente para que os homens pudessem cruzar os mares e romper com as fronteiras.

Contudo, assim como ocorreu com a escravidão, os povos que invadiram as novas Terras, ao invés de trazerem a bandeira da fraternidade e da comunhão humana, trouxeram a guerra e a destruição.

O choque cultural, étnico e religioso foi inevitável e os povos nativos da América praticamente foram dizimados, em momentos e por razões diferentes em cada parte do continente, mas o resultado foi inevitavelmente o mesmo, de tal sorte que hoje pouquíssimos povos ainda resistem.

É deste choque cultural que nasceu, no plano espiritual, a linha dos caboclos. Curiosamente, o termo “índio” vem de Índia (o país), pois Colombo acreditava que as terras por ele “descobertas” eram, na verdade, uma rota alternativa para a Índia.

Entretanto, na Umbanda, o termo que se popularizou foi “caboclo”, que é a mistura “racial” de brancos e indígenas (e em alguns momentos, com negros também). Assim, atuam na linha dos caboclos, espíritos que viveram entre os povos nativos ou seus descendentes mestiços com brancos ou negros.

Logo, todo caboclo foi um índio ou um mestiço, mas nem todo índio ou mestiço atua como um caboclo. Atuam assim aquelas entidades que alcançaram patamar espiritual para se tornarem guias, o que demanda elevação espiritual.

Força

Uma característica comum dos espíritos que atuam nesta linha é a força. São manifestações intensas, vibrantes, carregadas de vigor. Não raro, quando uma entidade se manifesta, a primeira coisa que faz é emitir o seu brado (que é como um grito de guerra).

Claro, nem todos os caboclos se manifestam assim, mas é uma característica comum desta linha.

Embate aos obsessores

Embora hoje se atribua o enfrentamento aos obsessores aos exus (o que não deixa de ser também verdade), inicialmente, na religião, esse enfrentamento era feito pelos caboclos que também faziam a guarda e proteção do médium.

Eram entidades muito temidas pelas falanges das sombras, pois os caboclos, com sua garra e vigor faziam tremer os espíritos mais frágeis que, não raro, fugiam tão logo viam se aproximar um caboclo.

Sinceridade

Outra característica comum desta linha é a sinceridade. Os caboclos, de modo geral, são entidades muito sinceras e, por vezes, até temidas, pois falam com energia e propriedade, embora também saibam ser acolhedores e amigos.

São entidades que quando prometem ajudar alguém, não medem esforços para tudo fazer em benefício do próximo.

Domínio das ervas

Embora muitas pessoas associem o conhecimento das ervas com os pretos-velhos, na verdade, estes aprenderam com os caboclos, pois quando vieram da África para o Brasil, encontraram aqui uma diversidade de plantas que eram desconhecidas para eles.

Foram os índios que ensinaram os escravos sobre as plantas. Assim, não raro, os caboclos conhecem e dominam o uso das ervas como ninguém, tanto no que se refere ao seu aspecto energético quanto fitoterápico.

Adereços

Alguns caboclos pedem adereços como: uma pena, um chocalho, uma fita, um cocar, etc.

Elementos

Embora se associe o cachimbo com os pretos-velhos, este instrumento foi inventado, na verdade, pelos índios que, na Umbanda, tradicionalmente, preferem o charuto.

Como os povos que naturalmente descobriram o tabaco e suas aplicações religiosas, os caboclos são mestres no uso desse elemento, promovendo muitas limpezas espirituais à base da fumaça de seus charutos.

Também trabalham muito com ervas durante os passes, seja para extrair uma energia, seja para passa-la diretamente no corpo do consulente.

Na esquerda

Alguns caboclos também se manifestam na esquerda, o que é raro atualmente, embora, no passado, tenha sido bem comum, principalmente pela característica do combate aos obsessores. Eram os chamados “caboclos quimbandeiros”.

Ainda hoje, contudo, muitos caboclos se responsabilizam por acompanhar os obsessores. Quando temos reuniões de desobsessão, por exemplo, é comum que os exus levem tais espíritos até a porta do terreiro e que os caboclos se responsabilizem por eles lá dentro.

Estereótipo

Os caboclos, quase sempre, se manifestam de forma ereta e vigorosa. Bradam muito alto, batendo o braço direito no peito do médium. Geralmente se mostram enérgicos e disciplinadores, sempre dispostos a encaminhar corretamente o consulente para que não se perca pelos labirintos da vida.

Mesmo quando se manifestam em pessoas franzinas, durante o transe, os médiuns assumem aspecto altivo e imponente, inclusive quando se manifestam em mulheres, o que frequentemente causa algum espanto aos consulentes leigos, quando veem “aquela senhorinha, com aquele caboclão”, como se costuma dizer.

Claro, nem todos os caboclos agem assim, embora seja uma característica comum desta linha.

Conclusão

As linhas primordiais da Umbanda são a dos caboclos e dos pretos-velhos, justamente, por terem sido duas linhas fundamentais para construção desta nação e que surgiram em contextos de exploração, violência, guerra e escravidão.

Gosto de pensar nos caboclos como o outro lado da balança do amor: a disciplina, pois enquanto os pretos-velhos, geralmente, se destacam por serem figuras amorosas, carinhosas e acolhedoras, os caboclos se destacam por serem entidades enérgicas e disciplinadoras, mostrando que ambas as coisas são necessárias para se seguir corretamente pelos caminhos deste mundo.

Até a próxima aula!

Leonardo Montes



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