![]() |
Imagem de Pai Cipriano - google |
A chamada “linha dos pretos-velhos” é composta
por espíritos que viveram no período da escravidão, na África ou no Brasil, e
que passaram por este imenso período de expiação coletiva, conseguindo aprender
e evoluir. Assim, nem todo escravo se tornou um preto-velho, mas todo
preto-velho foi um escravo.
Expiação
A escravidão, no dizer dos próprios espíritos,
foi um imenso movimento de expiação coletiva, onde almas que viviam em diversos
povos reencarnaram em determinado momento na África e, posteriormente, no
Brasil, a fim de resgatarem seus débitos para com a justiça Divina.
É certo que esta expiação coletiva foi muito
piorada pelos portugueses e colonos que, não compreendendo sua finalidade,
desceram fundo no egoísmo e na exploração, gerando vínculos cármicos
fortíssimos fazendo com que, não raro, vários portugueses viessem a reencarnar,
posteriormente, como filhos dos próprios escravos...
Neste processo doloroso, várias almas se
revoltaram ainda mais, agravando seus padecimentos, enquanto outras souberam
suportar a opressão e tiraram dessa experiência poderosos valores para seus
próprios espíritos. São essas almas virtuosas que compõe a chamada “linha dos
pretos-velhos”.
Sabedoria
Uma característica comum desta linha é a
sabedoria. Através de palavras simples, muitas vezes, em um “português errado”
(que na verdade, não é errado, mas aquilo que ele aprendeu na época em que
viveu na Terra), tais entidades conseguem, com muita facilidade, chamar
qualquer pessoa à razão com conselhos simples e humildes, revelando a sabedoria
daqueles que sofreram, mas aprenderam com a vida e que agora retornam, muitas
vezes, manifestando-se nos corpos de seus antigos algozes, nos ensinando o
caminho da paz e da caridade.
A maioria dos pretos-velhos evoca a figura de
um ancião em sua manifestação, como um avô carinhoso, uma avó acolhedora e
fraterna, porém, existem também pretos-velhos firmes e disciplinadores, embora
todos sejam almas bondosas, desejosas sempre de se melhorarem continuamente à
medida que nos exortam a seguir pelo caminho do bem.
Paciência
A paciência de um preto-velho é de fazer corar
qualquer apressadinho. Ainda hoje eu me espanto com a capacidade de renúncia
destas entidades que normalmente escutam as queixas mais absurdas dos
consulentes sem o menor ímpeto de julgamento e com a mais sublimada paciência.
Acolhimento
Outra característica comum desta linha é o
acolhimento aos sofredores. Por esta razão, os pretos-velhos são excelentes
ouvintes e sábios conselheiros. Quantas e quantas vezes vi algum preto-velho de
cabeça baixa, ouvindo o desabafo de algum consulente entre lágrimas, enquanto
segurava as mãos trêmulas da pessoa.
Esta capacidade de acolhimento tem feito, pelo
menos em nossa casa, que as giras deles se tornem as mais disputadas, pois num
mundo onde todos acham que têm direito de falar, sem necessariamente ter de
ouvir, os pretos-velhos são o retrato vivo de um passado onde se valorizava
mais ouvir do que falar.
Adereços
Vários pretos-velhos pedem adereços como:
bengala, um crucifixo, um rosário, um chapéu, etc.
Elementos
Esta linha costuma fazer uso do cachimbo e de
alguma bebida, sendo muito comum o uso do café e, menos comum, o uso do vinho
e, raramente, uso de uma bebida mais forte, como a pinga, por exemplo.
Além disso, fazem uso do cachimbo que, muitas
vezes, pode ser usado apenas com tabaco ou misturado com outras ervas, cigarro
de palha ou mesmo charutos.
Trabalham muito com as velas, com a energia do
fogo, da água, das ervas, sendo verdadeiros “mandigueiros”, isto é,
feiticeiros, no bem sentido da palavra.
Curas
Muitos pretos-velhos dedicam-se aos tratamentos
espirituais. É muito comum que acompanhem uma pessoa enferma até que se
restabeleça, dando passes em feridas, receitando chás, banhos e uma infinidade
de recursos que seus largos conhecimentos possam auxiliar.
Na esquerda
Atualmente, quando se fala em pretos-velhos,
naturalmente os classificamos como entidades da direita (conforme já
estudamos). Porém, existem alguns pretos-velhos que, anteriormente, foram
também exus e que podem, portanto, se manifestar também na esquerda, o que se
chamava, antigamente, de “preto-velho quimbandeiro”.
Ao que me parece, contudo, isto é relativamente
raro, sendo muito difícil presenciar que algo assim se dê, justamente, por que
cada vez mais os exus e pombagiras ganham espaços nos terreiros (o que nem
sempre foi comum).
Estereótipo
Os pretos-velhos, quase sempre, manifestam-se
segundo um estereótipo do que se imagina inerente a esta linha, isto é: andar
curvado, fala mansa, cadenciada, etc.
Dentro da religião, cada linha de trabalho
desenvolveu seus próprios estereótipos, de forma que basta uma rápida
observação para sabermos, mesmo à distância, se tal manifestação é de um
preto-velho ou de um caboclo, por exemplo, justamente, por que os pretos-velhos
terão seus trejeitos e que serão diferentes dos trejeitos dos caboclos e assim
por diante.
Não se segue que todo preto-velho tenha sido um
escravo que desencarnou em idade avançada, o que era proporcionalmente raro na
época. Este “velho” significa sábio sendo comum que vários brinquem dizendo que são “pretos-novos”.
Conclusão
Pensei muito no que escrever neste capítulo,
tendo em vista que me dirijo, essencialmente, aos leigos. Meu encanto com essa
linha (que é a minha preferida) dificultou muito este processo, pois há tanta
coisa por ser dito...
Contudo, conclui que o exposto seja o
suficiente. O restante, você só saberá o dia que sentir o cheiro do “cachimbo
do vovô” e se sentar em frente a uma entidade destas.
Até a próxima aula!
Leonardo Montes
0 Comments:
Postar um comentário
Os anos de internet me ensinaram a não perder tempo com opositores sistemáticos, fanáticos, oportunistas, trolls, etc. Por isso, seja educado e faça um comentário construtivo ou o mesmo será apagado.