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Este é, seguramente, um capítulo doutrinário que difere
bastante do que atualmente se vê divulgado em termos de Umbanda.
E embora tenha deixado claro na introdução deste estudo que
as informações que compõe este curso sejam registros de uma experiência pessoal
e vivencial, apenas uma dentre as muitas visões de Umbanda existentes, gostaria
de reiterar este ponto antes de prosseguir nesta análise.
Espíritos de luz?
É comum que os umbandistas se refiram aos guias espirituais
que comumente se manifestam nos terreiros como “espíritos de luz”. Mas, será
mesmo?
A expressão “espíritos de luz” se tornou popular devido a
experiência de vários médiuns videntes, ao longo da história, quando divisavam
figuras espirituais que, embora mantivessem o aspecto humano, tinham seu corpo espiritual
irradiando intensa luminosidade.
Tal “luz” é um aspecto inequívoco de elevação espiritual.
Para que um espírito atinja este nível, ele certamente
precisa batalhar muito, vivenciar muitas experiências na Terra, errar e
aprender fortemente, se tornando verdadeiramente uma alma iluminada pelo amor
universal.
Não há a menor dúvida de que todos temos esta
potencialidade. Contudo, chegar neste estágio é algo que está longe da condição
humana comum, sendo mesmo raros, numericamente falando, aqueles que atingem tal
patamar.
Creio que esta expressão se tornou popular na Umbanda como
uma oposição ao preconceito que muitos espíritas, desconhecedores da própria
doutrina, em sua maioria, mantêm em relação às práticas espirituais da Umbanda.
Como a maioria não conhece (ou mesmo crê em magia), julgam
as entidades atrasadas, quando não obsessoras, pelo fato de trabalharem com
elementos materiais.
É justamente para se opor a esta visão que boa parte dos
Umbandistas frequentemente diz que os espíritos que trabalham nos terreiros são
“de luz”. Contudo, embora justificável, este é um erro conceitual, pois a
maioria dos espíritos trabalhadores dos terreiros ainda não atingiu esta
condição.
Entretanto, não há razão para espanto: os espíritos que
normalmente trabalham nos centros espíritas também não são de luz. Nem os que
atuam junto as igrejas e quaisquer outras instituições humanas.
É lei da vida que aquele que subiu um degrau auxilie quem
está um degrau abaixo. Quem está um passo à frente, auxilie quem está um passo
atrás, não poderia ser diferente!
Não teríamos condições intelectuais e morais para
interpretar o pensamento de um espírito cuja evolução fosse tão grande a ponto
de irradiar amor universal (a luz é isso, é amor sublimado). Nossa mente é
pequena demais para isso...
A obra do espírito André Luiz, largamente aceita nos meios
espíritas, é um testamento vivo do que acabei de afirmar, quando demonstra, por
ele mesmo, que a maioria dos trabalhadores espirituais das organizações
religiosas são espíritos comuns, sem grande expressão evolutiva, sem qualquer luz
espiritual, mas com sincero propósito de ajudar, de fazer o bem e progredir.
Guias
Todo espírito, ao encarnar, terá a assistência de um bom
espírito que sempre procurará incentivá-lo ao bem, a suportar as provas, etc.
Este espírito é o que se convencionou chamar de anjo de guarda. Assim, não há
uma única alma na Terra a quem falte assistência superior.
Não se segue, porém, que todo mundo tenha a proteção de um
caboclo, de um preto-velho, de um exu, etc. Essa proteção é dada, naturalmente,
àqueles que são trabalhadores da religião, não se constituindo um privilégio,
mas uma assistência necessária a tarefa que desempenham.
Sempre abordo isso com o seguinte exemplo:
Quem precisa mais de proteção espiritual: a pessoa comum
que apenas leva sua vida material sem maiores preocupações ou aqueles que além
de tocar sua vida material também dedicam parte de seu tempo a socorrer os
aflitos? Quanto mais trabalhamos no bem, maior será a proteção espiritual que
receberemos, pois maiores também serão as investidas das trevas...
Aliás, a expressão “meu guia” serve apenas por falta de
outra melhor, uma vez que ninguém possui os espíritos, que não são coisas a
serem possuídas, muito menos, por um médium. Por esta razão, qualquer vaidade
neste sentido é mera tolice, até por que os guias podem receber outras missões ou
se o assistido não se mostrar digno, eles simplesmente o deixam entregue a si
mesmo.
Mas, quem são os guias?
Imagine, por exemplo, um guia turístico. Se você faz uma
viagem para uma cidade de importância histórica, é provável que encontre algum
guia por lá.
Este guia é alguém competente, conhecedor da cidade, dos
seus pontos turísticos, históricos, etc. É alguém habilitado para guiar os
estranhos por um agradável passeio histórico, certo?
Com a espiritualidade ocorre o mesmo!
Os guias são espíritos que um dia viveram como nós na
Terra. Contudo, após a desencarnação, por terem ainda muitos débitos a quitar no
planeta, recebem da espiritualidade maior amparo e esclarecimento, aprendendo
mais profundamente sobre a vida, a morte e o mundo espiritual.
Mais experientes e com maiores conhecimentos sobre as leis
Divinas, recebem permissão do Alto para atuar através de um médium, iniciando
um trabalho de caridade em algum dos muitos terreiros existentes no mundo.
Contudo, este processo não é simples nem rápido. Já
conversei com entidades que me disseram terem permanecido algumas décadas em
aprendizado no mundo espiritual para só depois virem de fato a trabalhar com
algum médium.
Esta é a função de um guia espiritual: como alguém que um
dia já viveu na Terra, passando por provações e dificuldades semelhantes às
nossas, ele assume a tarefa de um irmão mais velho, mais experimentado e mais
sábio, sempre dispostos a orientar seus tutelados pelos caminhos da caridade e
do amor.
Todos iguais?
Outro mito bastante difundido dentro da religião é que os
guias são todos iguais. Será mesmo?
Não!
Os médiuns de uma corrente são todos iguais? Possuem as
mesmas tendências? O mesmo grau de conhecimento?
Se os encarnados num trabalho de Umbanda não são todos
iguais, por que os guias seriam? Eles continuam com suas individualidades após
a morte e cada um possui um grau diferente de evolução, logo, eles não são
todos iguais.
O que ocorre é que dentro de um trabalho espiritual, todas
as entidades possuem as mesmas possibilidades de auxílio a quem as procura,
afinal, elas foram preparadas para isso durante muitos anos, portanto, não há
razão para se preferir um ou outro guia, que é o que faz com que muitos dirigentes
digam que todos os guias são iguais, já que muitos tem a ilusão de que o guia
do dirigente da casa seja melhor do que os guias dos outros médiuns e não é
assim que funciona.
As entidades não têm a mesma evolução espiritual e pode ser
que o guia de outro médium seja mais evoluído que o guia do dirigente... Porém,
dentro de um trabalho espiritual, todos têm a mesma possibilidade de
contribuir, pois foram preparados para isso.
De modo geral, quanto mais evoluído é o médium, mais
evoluídos serão os seus guias. Tudo é compatível no universo. Para quê Deus
enviaria anjos para tomar conta de crianças espirituais como nós?
Direita e Esquerda
Chegamos, finalmente, ao item que dá título a este estudo.
É comum ouvirmos falar em direita e esquerda dentro de um
terreiro. Mas, o que isso significa?
Quando falamos em direita, estamos falando dos guias que
estão acima da evolução humana comum e que geralmente trabalham nas linhas dos
pretos-velhos, caboclos e crianças.
Já a esquerda é composta por espíritos que estão mais
próximos da matéria, mais próximos do nível evolutivo humano comum, e
normalmente atuam nela os espíritos das linhas de exus e pombagiras.
Ainda existem as chamadas “linhas intermediárias”, onde
atuam entidades que podem variar para a direita ou para a esquerda, onde atuam
os espíritos de baianos, ciganos, marinheiros, etc.
Portanto, direita e esquerda são apenas divisões
conceituais para nos referirmos as entidades que estão mais próximas ou mais
distantes da matéria, apenas isso.
As entidades da direita se ocupam mais com a orientação e
direcionamento do médium, enquanto as entidades da esquerda cuidam da sua
proteção contra as investidas das trevas.
Não é melhor a direita ou pior a esquerda: elas fazem parte
de um todo, um conjunto, uma equipe necessária para o trabalho espiritual.
Até a próxima aula!
Leonardo Montes
Sagrado irmão, suas reflexões trazem muito alívio a minha mente curiosa. O exu que trabalha comigo sempre me pede para estudar, estou sempre buscando. Axé.
ResponderExcluirE que assim continue sempre!
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