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Característica comum dos pontos cantados são os versos
simples, por vezes, cantados em “português errado”, pois boa parte deles
surgiram quando a alfabetização era ainda precária no Brasil (tente imaginar o
percentual de pessoas que sabia ler/escrever no começo do século XX).
Os pontos de Umbanda são majoritariamente em português,
porém, alguns carregam termos em Iorubá (influência Ketu) ou Quimbundo
(influência Bantu). Por vezes, contam a história de uma entidade, outras vezes
são apenas agradecimentos, pedidos de auxílio, etc.
É comum que os trabalhos se iniciem e se encerrem com
pontos cantados.
Oração
O ponto cantado deve ser visto como uma oração, uma oração
em forma de canto, sendo extremamente útil para que o médium eleve seu
pensamento através das estrofes simples que normalmente compõe o ponto (por
isso o termo “ponto”, já que costuma ser pequeno).
Uma das grandes dificuldades dos terreiros é fazer com que
os membros da corrente cantem. Muitos, por vergonha, acabam apenas mexendo os
lábios, sem emitir verdadeiramente um canto.
É preciso superar essa vergonha, tendo-se em vista que o
canto num ritual religioso tem a força de uma oração, sendo capaz de congregar
boas vibrações em todo o ambiente.
Cantar fora do terreiro
Há pessoas que cantam pontos no caminho para o trabalho,
limpando casa, andando de bicicleta, enfim, haverá algum problema nisso?
Na verdade, não!
Pode-se cantar pontos onde e quando se queira. Mas, é
preciso ter um certo cuidado.
Se a pessoa canta com frequência nos mais diversos
ambientes, existe uma boa chance de que transforme, sem querer, o ponto numa
espécie de “marchinha”, uma música qualquer, fazendo com que aquele aspecto
sagrado do ponto que faz arrepiar os pelos dos braços se perca, tornando o
ponto simplesmente uma música sem maior valor: algo que se canta com a boca,
mas que não vibra o coração.
Por esta razão, recomendo sempre que se evite cantar fora
do terreiro, não por que isso traria algo de ruim, mas para que o aspecto
sagrado do ponto não se perca...
Atabaques
Na Umbanda nascente não se usava atabaques. Isso
basicamente por duas razões:
A primeira é que o C7E entendia que a entidade vinha para
fazer caridade, não para ficar dançando, cantando, etc. Isto é, ele tinha uma
visão restrita ao trabalho: entidade baixa para fazer caridade. Ponto final.
A segunda razão é que se temia (com certa razão), que o som
dos atabaques condicionasse os médiuns negativamente, isto é, só conseguindo
incorporar se os atabaques fossem tocados. Por isso, àquele tempo, os pontos eram
entoados apenas com a voz, sem palmas, sem atabaques, sem nenhum outro
instrumento.
Sem dúvida os receios do C7E eram justificáveis, pois
muitos médiuns realmente só conseguem entrar em sintonia se houver um atabaque,
e isto é um condicionamento mental muito negativo...
Atualmente, a maior parte dos terreiros possui atabaques e
estes são tocados juntamente com outros instrumentos de percussão que, se bem
executados, são capazes de proporcionar belíssimas cantigas que tocam o coração
e a alma.
Ponto gritado
A força de um ponto não está no timbre de voz ou na
afinação de quem canta, mas na fé com que a pessoa canta. Quanto mais o
ponto mexer com as nossas emoções, mais força ele terá.
Ainda assim, contudo, muitos exageram na hora de cantar,
literalmente, passando do canto ao grito, o que certamente não convém...
Pontos antigos x modernos
Este é um assunto que eventualmente aparece: o melhor é
cantar os pontos antigos ou os modernos?
Na verdade, não há uma resposta certa sobre isso, ficando a
critério do gosto pessoal.
Particularmente, prefiro os pontos antigos, sem atabaques,
só na voz. Eles me remetem a um espaço gostoso entre o espiritual e o material,
uma certa nostalgia...
Contudo, eu também aprecio o som dos atabaques quando bem
executados e também gosto de vários pontos modernos que estão sendo divulgados,
principalmente, pelo youtube.
Não acho que necessariamente precisa haver atrito entre o
passado e presente, ambos podem conviver e trazer a sua contribuição, porém,
cada um é livre para escolher aquilo que mais desperta a sua fé, que é o
objetivo do ponto cantado.
Pontos para a esquerda
Antigamente, era comum ouvirmos pontos de exus que faziam
associações com o diabo ou até mesmo com atos de violência. Contudo, embora populares,
pontos desta natureza mais enfraquecem do que ajudam a religião, pois, não
raro, difundem uma imagem que não condiz com a realidade.
Por esta razão, sugiro evitá-los.
Exemplos de pontos cantados
Trarei alguns pontos cantados que aprecio, como forma de
exemplificação ao leigo:
Até a próxima aula!
Leonardo Montes
Leonardo Montes
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