SEGUNDA
PARTE
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Embora
tenha deixado claro, na introdução deste curso, que a leitura que faço da
Umbanda seja apenas uma das leituras possíveis, ressalto novamente que, daqui
por diante, tudo que escreverei se refere, estreitamente, a doutrina que aprendi
com as entidades e praticamos em nosso terreiro.
Como
toda religião, a Umbanda tem seus princípios básicos, fundamentais, norteadores
da sua prática e visão de mundo e, embora seja difícil enumerá-los todos,
elencarei os principais, os pontos essenciais, que nortearão nossos estudos.
Deus
A
Umbanda acredita em Deus. Mas, qual Deus? Existem milhares de religiões, cada
uma com uma concepção diferente de Deus. O Deus que se acredita na Umbanda é o
criador de tudo e de todos, do mundo espiritual e material, o mesmo que pode
ser encontrado no Cristianismo e definido pelos espíritos à Kardec como:
“inteligência suprema, causa primária de todas as coisas”.
Nós
não sabemos como Deus existe ou se havia algo antes dele ou como nos criou.
Estas questões são mistérios. Os nossos guias espirituais nos ensinam, contudo,
que há um criador, soberano a tudo e a todos, a quem devemos sempre amar, louvar
e agradecer.
Diabo?
Não existe
a figura do diabo na Umbanda, nem demônios. A maldade não é fruto de um
ser, mas da pouca evolução espiritual da alma humana. Deus não possui
antagonista, pois seu poder é absoluto. Por esta razão, é totalmente incoerente
a acusação que, por vezes, os inimigos da Umbanda nos direcionam, quando
afirmam que somos adoradores do diabo... Como podemos adorar algo que nem
sequer acreditamos que exista?
Jesus
Jesus
é o governador espiritual da Terra, o líder supremo de todas as falanges
espirituais, nosso mestre bem-amado e modelo de humanidade. Não é “o filho” de
Deus, como se houvesse apenas um. É um filho de Deus, como todos somos, porém,
mais evoluído, nosso irmão mais velho na caminhada espiritual.
Seus
ensinos, os Evangelhos, são reiteradamente apontados pelas entidades como o caminho para a verdadeira libertação espiritual.
Espíritos
Somos
espíritos, criados por Deus em algum momento e destinados a imortalidade. Nosso
corpo é apenas a veste, a parte grosseira, material e perecível do nosso ser.
Os
espíritos são criados “simples e ignorantes”, mas como potencialidades
intelecto-morais latentes, cabendo a cada um desenvolvê-las por sua própria
vontade.
Aqueles
que alcançam certo grau evolutivo recebem a missão de retornar para ajudar a
humanidade nesta caminhada, por isso são chamados de “guias”, pois como quem
passou pelos caminhos que agora estamos passando, estes irmãos mais experientes
estão aptos a nos “guiar” em nossa jornada.
Mundo Espiritual
Após
a morte do corpo físico, a alma é libertada para retornar à sua verdadeira
pátria: o Mundo Espiritual. Não se trata de um outro planeta, mas de uma série
de dimensões vibratórias onde o espírito habita de acordo com a sua evolução.
Existem
regiões venturosas como Aruanda (nome dado às colônias espirituais de trabalho
e assistência onde comumente “residem” as entidades que se manifestam na
Umbanda), mas também existem regiões purgatoriais e de sofrimento, destinadas
às almas que, na Terra, espalharam dor e sofrimento.
O
mundo material em que vivemos é apenas uma das faixas mais densas. Após a
morte, a alma se libertando do veículo mais pesado, consegue peregrinar por
regiões superiores, se evoluída ou é arrastada para regiões inferiores, se assim
o merecer ou mesmo ficará atrelada à Terra se não for evoluída o suficiente
para “subir” ou inferior o suficiente para “descer”.
Não existem, porém, condenações absolutas e todas as almas, um dia, evoluirão.
Reencarnação
Na
marcha evolutiva do espírito é necessário que, de tempos em tempos, ele tome um
corpo material, renasça no mundo, volte a viver entre os homens, a fim de
passar por provações ou expiações que, se bem aproveitadas, conduzirão a um
degrau acima na escala evolutiva.
Não
há número mínimo ou máximo de reencarnações, pois cada espírito empreende sua
própria jornada que, diga-se, não se cumpre apenas em nosso mundo, mas na
vastidão do cosmos, até que se atinja a perfeição espiritual, o que pode levar
milhares, talvez, milhões de anos para acontecer.
Leis Espirituais
Existem
leis: leis que governam a vida material (objeto de estudo da
ciência) e leis que governam o mundo espiritual (objeto de estudo das
religiões), seja na matéria ou fora dela, porém, existem leis inexoráveis,
imutáveis, criadas por Deus, para a manutenção do universo.
Dentre
as leis mais importantes na doutrina religiosa da Umbanda, podemos destacar: a
lei de amor (todos somos criados para nos amarmos e nos auxiliarmos), lei de
bondade (devemos ser bons no trato com os semelhantes), lei de liberdade
(reconhecemos o direito das pessoas trilharem os caminhos que julgarem melhores
para si), lei de retorno (cada um recebe a medida do bem ou do mal que causou aos outros), etc.
O Bem
A
prática do bem é distintivo da Umbanda. Como seres conscientes de nossas
imperfeições e desejosos de ascensão espiritual, é nosso desejo sempre evoluir,
progredir, melhorar, tornarmo-nos mais fraternos, melhores filhos, maridos,
esposas, amigos, etc.
Toda
a doutrina da Umbanda, calcada nos Evangelhos, impele o homem ao conhecimento
de si mesmo, ao respeito à diversidade, facultando os meios de encontrar,
especialmente pelos ensinos dos espíritos, o incentivo para a constante
melhoria de nós mesmos.
Não há espaço na Umbanda para trabalhos que se afastem das leis Divinas ou que visem prejudicar o
próximo.
Obs.:
Por esta razão, fique certo do seguinte: se algum dia, em algum lugar, você
visitar um terreiro de Umbanda e as pessoas ali presentes, bem como as
entidades, derem alguma orientação que fira a moral, a ética, os ensinos de
Jesus, esteja certo de que se trata, na melhor das hipóteses, de uma casa sem
fundamentos e, neste caso, o meu conselho é que procure outra. A Umbanda não
pode ser responsabilizada pela deturpação que pessoas sem conhecimento fazem em
seu nome, como não podemos responsabilizar todos os evangélicos pelo abuso de alguns pastores...
Gratuidade
Para
cumprir o seu papel de sempre fazer o bem, a religião arrasta consigo outro
princípio coirmão do primeiro: a gratuidade. Os trabalhos de Umbanda são sempre
gratuitos, nunca exigindo qualquer pagamento para realização de uma atividade
espiritual, seja ela qual for.
As
casas possuem liberdade para pedir contribuição material (vela, fumo, bebida,
etc) ou financeira, mas nunca poderão impô-la: ajuda quem quer, como quer e se
puder.
As
despesas oriundas da casa podem ser divididas entre os membros da corrente ou
supridas através de atividades como rifas, bingos, bazares, jantares, etc.
Obs.:
Aqui farei um adendo semelhante ao anterior: se você visitar uma casa de
Umbanda e alguém lhe obrigar a pagar, seja para um trabalho, um atendimento
particular, enfim, o que quer que seja, a minha recomendação é que não aceite e
procure outra casa.
Caridade
A
caridade (isto é, o auxílio ao próximo pautado apenas no interesse em ajudar),
é a tônica da religião e toda a doutrina e prática da Umbanda induz a
considerar a caridade não apenas dentro, mas fora do terreiro, especialmente no
lar, em família, no trabalho e na sociedade como metas de vida.
O
umbandista aprende que não pode ser feliz sozinho e que deve fazer, por sua
vez, todo o possível para auxiliar as pessoas que cruzarem seu caminho. Na
impossibilidade de ajudar, deve tudo fazer para nunca atrapalhar a quem quer
que seja.
Humildade
A
humildade consiste no reconhecimento de nossas próprias limitações. Quem quer
que se esforce em ter uma ideia mais completa de si mesmo, fatalmente esbarrará
nos próprios limites.
Este
pensamento foi resumido pelo próprio C7E, quando disse: aprenderemos com quem
souber mais e ensinaremos aos que souberem menos. Na Umbanda, sempre há espaço
para aprender, pois não importa quantos anos de caminhada tenha determinada
pessoa, ela nunca saberá tudo.
Tradicionalmente,
quem tem mais experiência ensina os novatos, mas nem por isso deixa de aprender
com estes, já que todos que sinceramente se entregam ao saber espiritual acabam
deixando algo de si pelos caminhos dos outros.
Todos são bem-vindos
Num
terreiro de Umbanda, todos são bem-vindos: ricos, pobres, gays, artistas,
anônimos, pessoas com ou sem religião, vestidas de terno e gravata ou de
bermuda e chinelos, etc. Não importa!
Quando
alguém procura um terreiro é que sente necessidade de algo que pode ser
encontrado nele. Por esta razão, não há acepção de pessoas. Todos são
bem-vindos, desde que se portem com dignidade e educação.
Ninguém
é barrado por ser branco ou negro, rico ou pobre, estar de sapato ou de
chinelos (embora frequentemente haja recomendação de se trajar roupas
condizentes a um espaço religioso), todos são recebidos da mesma forma e
sentam-se lado a lado, sendo atendidos da mesma forma, com o mesmo carinho e
consideração, independente de quaisquer fatores que, socialmente, poderiam
distingui-los.
Orações
A
oração tem um papel fundamental na Umbanda, sendo comum que os trabalhos
comecem e terminem com uma oração. A oração é a força mental que nos liga
diretamente aos planos superiores, por isso recomenda-se atitude de
recolhimento ao consulente, para que venha a colaborar com suas forças durante
as orações.
As
orações, frequentemente, são direcionadas a Deus, a Jesus, aos Orixás e também
aos guias espirituais. Cada um orando da maneira que mais lhe agrade, sendo
sempre mais importante a fé na hora da oração do que a forma da oração em si.
Passes
Os
passes são transmissões de energia tanto das entidades, quanto dos médiuns, com o
objetivo de revigorar nossas forças orgânicas e espirituais. O passe ajuda a
manter o equilíbrio espiritual e nos dá mais disposição.
Se,
porventura, estivermos “carregados” (isto é, com muitas energias densas), as
entidades aproveitam o passe para fazer um “descarrego”, isto é, um trabalho de
limpeza energética, para que possamos, justamente, ter equilíbrio físico,
mental e espiritual.
A
Umbanda é um verdadeiro hospital de almas, sempre pronta a amparar e a socorrer aqueles que a procuram.
Orientações
Após
o passe, é comum as entidades dialogarem com as pessoas. É o momento íntimo,
especial, onde o consulente (aquele que se consulta), terá a oportunidade de
conversar com a entidade que está lhe atendendo, podendo pedir-lhe orientações
sobre quaisquer setores da sua vida particular.
As
entidades que comumente se manifestam na Umbanda são excelentes ouvintes,
dispondo-se sempre a escutar e a orientar sejam quais forem os dramas de cada
um.
Um
terreiro de Umbanda é um verdadeiro consultório psicológico.
Considerações
Considero
os princípios apontados como fundamentos básicos norteadores de toda casa séria de
Umbanda. Não importa que seja vertente A ou B, se for uma casa séria, estes
princípios serão percebidos a um olhar atencioso.
No
correr dos próximos capítulos, porém, abordaremos outros tópicos importantes,
que versam tanto sobre a doutrina, quanto pela prática e que deixarão mais
claramente definidos os contornos da religião.
Até
a próxima aula!
Leonardo
Montes
Olá Leo!
ResponderExcluirTextos excelentes, como sempre!
O capítulo 22 não está na lista aí no blog para compartilhamento... algum problema com o link? Só o vi no Reflexões 2. Abraços!
Só não havia linkado mesmo à coluna, mas agora já está lá. Grato!
ResponderExcluirBom dia o capítulo 20 não está disponivel
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