Casa onde nasceu a Umbanda - Imagem do google |
A Tenda Espírita Nossa Senhora da Piedade (TENSP, para facilitar), sempre se preocupou em manter a tradição
trazida pelo Caboclo das Sete Encruzilhadas (C7E, para facilitar) e não
necessariamente em registrar e divulgar a sua história. Portanto, embora hoje saibamos muitas
coisas, outras tantas provavelmente nunca saberemos. As primeiras menções à
tenda datam de mais de vinte anos da sua origem e provavelmente os detalhes
sobre os anos iniciais da Umbanda se perderam para sempre.
Entretanto, a narrativa é mais
ou menos a seguinte:
Após o conturbado episódio do
dia anterior, no dia 16/11/1908, vários curiosos e membros do referido centro espírita se encontravam
na casa de Zélio de Moraes à rua Floriano Peixoto, n. 30, para ver o que realmente
aconteceria e se as promessas do espírito se cumpririam de fato.
Às 20h, Zélio incorpora o
espírito Caboclo das 7 Encruzilhadas que afirma estar criando o que
inicialmente chamou de “um novo culto” que acolheria todas as pessoas assim
como Maria de Nazaré em sua representação de Nossa Senhora da Piedade, e que ouviria
a todos os espíritos, aprendendo com os que soubessem mais e ensinando aos que
soubessem menos.
Estava criada a Tenda Espírita
Nossa Senhora da Piedade, primeiro terreiro de Umbanda, que existe ainda hoje.
Houve burburinho geral.
As pessoas se acotovelavam e
se espremiam na pequena sala para poder ver a entidade que falava de forma vibrante
e firme. Para testificar sua missão na Terra, o C7E pede que sejam trazidos à
sua presença algumas pessoas obsediadas que eram tratadas como loucas e que
após seus passes ficaram boas novamente.
Conta-se que até mesmo um
paralítico levado ao local foi curado pelo caboclo.
Ele teria, ainda, conversando
em latim e alemão com alguns intelectuais presentes e dado provas de sua
sabedoria e inteligência ao dialogar sobre vários assuntos diferentes com as
pessoas presentes.
Em seguida, estabeleceu as
regras do trabalho que aconteceria às segundas, quartas e sextas-feiras, das 20
às 22h, tendo explanado sobre uma série de princípios que fundamentariam a
religião e que abordaremos futuramente.
Encerrada sua participação, o
caboclo cedeu o seu lugar ao espírito de Pai Antônio, preto-velho, que tão logo
se manifesta, dirige-se a um canto e se senta num toco de árvore.
As pessoas estranham, procuram
conversar com o espírito, pedindo que se sentasse à mesa, ao que nega dizendo:
mesa é lugar de doutor, nego veio senta é no toco, explica numa linguagem truncada,
de difícil compreensão.
Quando perguntado se desejava
alguma coisa, respondeu: minha cachimba, manda moleque buscar (frase que virou ponto),
tendo em seguida distribuído passes e conselhos às pessoas presentes.
Assim nasceu a umbanda: de
forma simples e suave.
Com o tempo, o culto foi se estruturando:
chegaram as imagens dos santos católicos que compuseram um altar, foi definido
a cor branca como uniforme de trabalho, um ritual de abertura foi institucionalizado,
dando forma ao trabalho que até hoje se realiza do mesma jeito na Tenda Espírita
Nossa Senhora da Piedade e que gradativamente foi se espalhando pelo Brasil,
sofrendo adaptações.
A fama de Zélio se espalhou
por toda a cidade. Numerosas pessoas aflitas, doentes, consideradas loucas ou
perturbadas espiritualmente começaram a procurar a TENSP para receber auxílio
espiritual.
Com o tempo, novos médiuns
foram desenvolvidos e mais pessoas passaram a ser atendidas.
Vejamos, agora, a narrativa de
Leal de Souza, na década de 1930, sobre a Tenda Espírita Nossa Senhora da
Piedade:
“Sobe a presidência do Sr.
Zélio Moraes, médium do Caboclo das Sete Encruzilhadas, erigida em sítio
tranqüilo, entre arvores, a Tenda Nossa Senhora da Piedade é a casa humilde dos
milagres...
Atacada de moléstia fatal, a
filha de um comerciante de Niterói, agonizava sofrendo, e como a ciência humana
se declarasse impotente para socorrê-la, seu pai, em desespero delirante, numa
tentativa extrema, suplicou auxílio à modesta Tenda das Neves. Responderam-lhe
que só à noite, na sessão, o guia poderia tomar conhecimento do caso.
Regressando ao lar, o
desconsolado pai encontrou a filha morta e, depois de fazer constatar o óbito
pelo médico, mandou tratar o enterro. No entanto, à noite, na Tenda de Nossa
Senhora da Piedade, aberta a sessão, o Caboclo das Sete Encruzilhadas,
manifestando-se, disse aos seus auxiliares da Terra, ainda desconhecedores do
desenlace da doença, que se concentrassem, sem quebra da corrente, e o
esperassem, pois ia para o espaço, com suas falanges, socorrer a enferma que
lhes pedira socorro.
Duas horas depois voltou,
achando aqueles companheiros exaustos, do longo esforço mental. Explicou-lhes,
então, na pureza da sua realidade, a situação, e mandou-os que fossem em nome
de Jesus, retirar a morta da mesa mortuária, e comunicar-lhe que a misericórdia
de Deus, para atestar os benefícios do espiritismo, permitia-lhe viver,
enquanto não negasse o favor de sua ressurreição.
Confiante em seu chefe, os
humildes trabalhadores da Tenda da Piedade cumpriram as ordens recebidas, e a
moca não só ficou viva, como curada. O médico, que lhe tratou da moléstia, e
que lhe constatou o óbito observou-a, por algum tempo, até desistir de penetrar
o misterioso de seu caso, classificando-o na ordem sobrenatural dos milagres.
Meses depois, a mesa do
almoço, conversando, a ressurreta contestou com firmeza, negando-a, a ação
espiritual que lhe restituir a vida material, porém nessa ocasião adoeceu de
uma indigestão, falecendo em menos de vinte e quatro horas. Uma associação de
grande autoridade no espiritismo, ao ter conhecimentos desses fatos, resolveu
apurá-los com severidade, para desmenti-los ou confirmá-los sem sombra de
dúvida e, num inquérito rigoroso, com auxílio das autoridades do Estado do Rio
de Janeiro, estabeleceu a plena veracidade deles, publicando, no órgão de
Federação Espírita a sua documentação.
A média mensal das curas de
obsedados que iriam para os hospícios como loucos, é de vinte e cinco doentes,
na Tenda da Piedade. Os espíritos que baixam nesse recinto não procuram
deslumbrar os seus consulentes com o assombro de manifestações portentosas, mas
as produzem muitas vezes, que lhas exigem as circunstâncias.
Os auxiliares humanos do
Caboclo das Sete Encruzilhadas, na Tenda que é, por excelência, a sua Tenda,
mesmo os que têm posição de revelo na sociedade, não se orgulham dos favores
que lhes são conferidos e procuram, com doçura e humildade, merecer a graça de
contribuir, como intermediários materiais, para a execução na Terra, dos
desígnios do espaço.” O Espiritismo, a Magia e as
Sete Linhas de Umbanda, Cap. XXV.
A TENSP se notabilizou por
fatos extraordinários como este e pela cura de obsediados, tratados por loucos,
e que fatalmente seriam internados em hospícios não fosse a intercessão do C7E e a força mediúnica de Zélio de
Moraes.
A TENSP, primeiro terreiro de
Umbanda, inaugurou na Terra uma nova luz, alicerçada em princípios cristãos e
que contribuiria, decisivamente, para o fim do comércio com o espiritual e dos
trabalhos voltados ao mal, tão comum nas correntes mediúnicas da época, cujos
ecos são ouvidos ainda hoje...
*
Fico a imaginar se as pessoas da tenda tinham ideia do movimento que estavam iniciando... Quantas e quão majestosas conversas estas pessoas puderam ter com Pai Antônio ou com o Caboclo das Sete Encruzilhadas em rodas amigáveis ao fim dos trabalhos...
Até a próxima aula!
Leonardo Montes
*
Fico a imaginar se as pessoas da tenda tinham ideia do movimento que estavam iniciando... Quantas e quão majestosas conversas estas pessoas puderam ter com Pai Antônio ou com o Caboclo das Sete Encruzilhadas em rodas amigáveis ao fim dos trabalhos...
Até a próxima aula!
Leonardo Montes
Oi Leo! Bom dia! Que ótimo ver mais um capítulo do Curso de Umbanda... estava morrendo de saudade do curso!!! Rss. Tenho acompanhado seu trabalho no Reflexões e no Voz Espiritualista e tenho aprendido muito!!! Obrigada pelos ensinamentos!
ResponderExcluirAh!!! E já estou ansiosa, esperando pelos próximos capítulos! Parabéns, Leo!
Grato, Maria. Com o fim da faculdade, vou tendo mais tempo para escrever.
ResponderExcluirÉ com lágrimas nos olhos que digito essas linhas, esse vídeo do Ronaldo falando sobre o Saudoso Zélio me emocionou de uma forma que não sei explicar. Só tenho uma palavra a dizer: GRATIDÃO
ResponderExcluirQue bom que gostou. Quando assisti a primeira vez também fiquei com lágrimas nos olhos...
ResponderExcluir