CURSO BÁSICO DE UMBANDA - CAP. 02 - INÍCIO DA ESCRAVIDÃO NO BRASIL


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Quando pensamos em escravidão, logo levamos nosso pensamento ao que aconteceu em solo brasileiro com os negros. Contudo, a escravidão em nossas terras começou antes, com os índios. É preciso recordar este capítulo, frequentemente pouco comentado, para que possamos entender a “linha dos Caboclos”.

A motivação para a exploração das novas terras, pelos portugueses, aconteceu essencialmente pela busca do ouro. O ouro era a moeda da época e quanto mais ouro um reino possuía, maior a sua força e soberania. Assim, basicamente, todos os países europeus que se lançaram ao mar buscavam acumular riquezas para suas respectivas coroas e, as pessoas que se aventuravam nestas expedições, também ambicionavam riquezas para si.

Porém, o que movia os grandes navegadores não era apenas a ambição, mas um ideário religioso. Naquele tempo, especialmente na Espanha, havia o forte desejo de empreender uma nova cruzada à “Terra Santa” e, com isso, levar o catolicismo (Espanha e Portugal eram nações profundamente católicas) ao mundo inteiro, especialmente, para quem não o conhecia.

É preciso recordar que, durante muito tempo, a igreja e o Estado caminhavam lado a lado, quase se confundindo, num misto de poder real e poder religioso, que direcionava a vida de espanhóis e portugueses para novas aventuras e descobertas.

Assim que desembarcaram em terras que, futuramente, seriam chamadas de brasileiras, os portugueses procuraram por ouro, especialmente, o de aluvião. Contudo, não encontraram quantidades significativas de ouro, voltando seus interesses para o Pau-Brasil, cuja madeira servia para fazer uma tintura avermelhada que era vendida para a Europa.

Contudo, Pau-Brasil é uma arvore muito grande, necessitando de muito esforço para derrubá-la, cortá-la e transportá-la até os navios. Assim, os portugueses buscaram estabelecer uma relação de parceria com os índios, já que não tinham mão de obra suficiente.

Você já se perguntou por que os povos nativos da América são chamados de índios? 
Na verdade, Colombo pretendia estabelecer uma nova rota marítima para a Índia (muitas lendas falavam sobre as riquezas deste povo), porém, no meio da sua viagem, ele acabou “descobrindo” um novo continente (América), que ele achou ser a própria Índia, daí o termo índio para os povos nativos.

Essa relação de parceria com os índios se deu através da prática do escambo: Os portugueses ofereciam coisas como pentes, espelhos, facas, machados, etc., em troca do trabalho dos índios que ajudavam a derrubar as árvores e transportá-las.

Muitas pessoas, lendo sobre o escambo, concluem facilmente que os índios eram bobos, ingênuos, pois o seu trabalho valia muito mais do que os objetos que recebiam e que os portugueses eram espertalhões, abusado da ingenuidade dos povos nativos, oferecendo-lhes quinquilharias em troca de suas riquezas.

O que pouco se reflete é que os objetos não têm valor por si mesmos: Somos nós que lhes atribuímos valor! Você já parou para pensar, por exemplo, que muita gente morreu ao longo da história por causa de um metal brilhante chamado ouro? Ou que, ainda hoje, existam pessoas dispostas a matar e a morrer por causa de um cristal chamado diamante?

Para os índios, aqueles objetos de uso cotidiano eram uma novidade e extremamente úteis para suas vidas. Portanto, para eles, valia o esforço de derrubar aquelas árvores e transportá-las para possuírem coisas que ninguém mais tinha e tirar, com isso, todo o proveito possível (esqueça a ideia do “bom selvagem”, os índios eram pessoas como quaisquer outras).

Contudo, as relações logo seriam estremecidas. Objetivando maiores recursos para a metrópole, Portugal deu início a uma intensa fase de cultivo de cana-de-açúcar no Brasil e como era preciso muita mão de obra, os índios começaram a ser escravizados.

A escravidão dos índios, contudo, não rendeu bons resultados: Os jesuítas interferiam à favor dos índios (pois queriam catequizá-los), criando, com isso, desconforto entre a igreja e o Estado. Além do mais, os índios não conseguiam compreender o modo de produção europeu, não viam sentindo em uma produção em larga escala e se negavam a trabalhar, ainda que sob castigos físicos.

Aliás, foi esta resistência que deu origem a outro estigma social: O índio é preguiçoso! Você acha mesmo que alguém capaz de viver na mata, no sertão ou no litoral, sobrevivendo apenas do seu próprio esforço, seja alguém preguiçoso?

Além do mais, obter escravos não era nada fácil. Era preciso organizar expedições mata adentro, guerrear com os povos que não se rendiam facilmente e muito sangue indígena e português foi derramado.

É claro que, para entendermos melhor as guerras ocorridas neste período, não devemos pensar que os povos indígenas eram unidos e fraternos (como boa parte da literatura romântica queria fazer crer), muitos eram rivais e se aliaram aos portugueses para dominar e conquistar seus inimigos. Inclusive, muitos escravos eram prisioneiros de guerra de outros povos e foram comprados pelos portugueses.

Assim, para que a escravidão indígena pudesse ocorrer, muito sangue foi derramado, gerando muitas dívidas “cármicas” tanto entre indígenas quanto entre europeus.

Iniciando por volta de 1540, tendo seu auge em 1580, mas só oficialmente extinta em 1757, a escravidão indígena perturbou a ordem social de diversas comunidades que não apenas perdiam suas terras, mas seus corpos para o trabalho forçado em prol da ganância de nações “civilizadas”.

Você consegue imaginar o dano causado a estes povos? Como eles sofreram com as doenças trazidas pelos europeus, pelas mortes decorrentes de inúmeros conflitos armados e como tudo isso impactou no cotidiano destes povos?

Para que você tenha uma ideia, imagine que havia mais de mil povos diferentes vivendo por aqui em 1500 e que hoje existem pouco mais de trezentos.

Contudo, os índios e os brancos não viveram apenas em conflito. Muitas uniões se deram e a miscigenação do povo Brasileiro teve origem. É claro que muitas crianças nasceram da violência sexual, mas outras tantas nasceram de núcleos familiares formados por brancos e índios, o que deu origem ao caboclo, filho de branco com índio, sendo inicialmente um termo pejorativo.

Até mesmo a coroa portuguesa incentivava a união dos colonos com os nativos, dando inicio ao processo de povoamento e formação do nosso Brasil.

Até aqui, abordei exclusivamente a questão por um viés histórico para que você compreenda as razões que ligam portugueses e indígenas ao solo brasileiro. A partir de agora, comentarei o que me foi relevado espiritualmente:

A partir do momento em que brancos foram mortos por índios e índios por brancos, deu-se início a um “ciclo cármico” entre essas duas culturas (e tantas outras ao longo do tempo), em que espíritos de portugueses acabaram reencarnando em tribos indígenas ao passo que espíritos de indígenas também reencarnaram entre os portugueses, a fim de resgatar as faltas adquiridas e também evoluírem espiritualmente.

A miscigenação não ocorreu apenas a nível corpóreo com a mistura das “raças”, mas também dos espíritos que passaram a experimentar a cultura dos antigos inimigos através da reencarnação.

Assim surgiu a linha dos Caboclos que será abordada de forma mais ampla quando estudarmos esta linha futuramente.

Não é sem razão que, frequentemente, vemos Caboclos comentarem que já viveram entre os brancos no passado ou que, antes de encarnarem-se entre os povos nativos haviam reencarnados na Europa ou, ainda, que muitos médiuns hoje atuando em terreiros de Umbanda, no passado, foram colonos portugueses que participaram de muitos conflitos, etc.

Você já ouviu alguma história assim? Pois eu já, muitas!

Até a nossa próxima aula!

Comentários

(7)
  1. Boa noite Leonardo Montes! Antes de mais nada agradeço a Deus por seu desprendimento em realizar mais este trabalho de instrução e conhecimento. É um estudo para todos os interessados em aprender sobre a raiz da Umbanda, onde tudo começou, quando e como. Entender o porquê de existir essas e tantas outras linhas... E muitas ainda estão aparecendo em nossos dias. Certamente para tudo tem uma resposta e será através destas leituras e outros livros que certamente estará indicando que alcançaremos o entendimento que precisamos pra caminhar com responsabilidade e sabedoria junto aos Espíritos que vem em terra pra fazer a Caridade. Oxalá nos abençoe a todos!

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  2. Nossa adorei só tenho que agradecer por esse estudo muito amplo parabéns!!!

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  3. Parabéns pela iniciativa de compartilhar seu conhecimento. Num mundo cada vez mais egoísta, materialista e oportunista, você disponibilizar esse material fruto do seu estudo e conhecimento, só denota o quanto você é lúcido espiritualmente. Gratidão por nos permitir compartilhar dessa lucidez, humildade e grande sabedoria. Oxalá lhe abençoe!

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  4. Grato, Débora. Somos todos aprendizes e não custa nada nos ajudarmos, não é?

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