Imagem do google |
Aprendi com as entidades que
existem, basicamente, três tipos de exus: pagãos, batizados e coroados. Antes,
porém, de explicar cada um, convém dizer que exu é um cargo ocupado por uma
entidade (espírito) e não um tipo de entidade.
Mas, o que vem a ser este
cargo?
Exu (entidade e não o Orixá) é
o cargo ocupado por aquelas entidades que fazem a guarda do médium ou do
terreiro. A função primordial de um exu é defender seu tutelado do ataque de
outros espíritos.
Podemos dizer que cumpre papel
semelhante ao de um soldado ou de um guarda.
A partir disso, contudo, não
se deve inferir (como é comum hoje em dia) que exu seja, necessariamente, um
espírito que trabalha para o bem, um espírito evoluído, um trabalhador da luz
nas trevas, etc.
Essa interpretação, bastante
difundida hoje em dia, busca atribuir a exu um papel necessariamente bondoso,
enquanto os demais espíritos que se intitulam como exus passam a ser visto como
espíritos que “se aproveitam do nome de exu” sem o serem de fato.
Mas, não é bem assim que
aprendi com os próprios exus...
EXU PAGÃO:
Esta expressão é muito antiga na
Umbanda e refere-se a espíritos que exercem a função de exus e que se comportam
como verdadeiros “freelancers” do Mundo Espiritual, isto é, mercenários,
aceitando este ou aquele trabalho, para o bem ou para o mal, conforme seus
próprios interesses.
São essas entidades que atuam
em trabalhos de magia negra e coisas do tipo: amarrações, derrubada de chefe,
etc.
Essas entidades não são
necessariamente perversas (pois podem agir também em prol do “bem”), mas são
profundamente interesseiras, egoístas, mesquinhas e, por isso, pouco
confiáveis.
Se se simpatizam com a causa
do consulente, podem atende-la. Caso contrário, simplesmente se negam. Tanto é
que, esses “pai de poste” (sim, esses que colam cartazes oferecendo mil
maravilhas), não aceitam um trabalho sem antes consultar a entidade que lhe
assiste, pois esta pode simplesmente se negar a executar o serviço “contratado”
se não se interessar pela causa.
Costumam exigir como pagamento
desde suas bebidas favoritas à sexo (dependendo das suas tendências).
Incorporam-se em seus médiuns para fazer uso das bebidas, comer suas comidas
preferidas, usar as roupas que mais gostavam (pasme, isso existe!) e até mesmo
para se relacionar sexualmente, enfim, a coisa vai ficando cada vez mais esquisita...
Essas entidades, quase sempre,
insuflam nos médiuns que as recebem um sentimento de superioridade, de grande
poder, fascinando-o completamente e, não raro, este passa a se ver como um
poderoso “mago negro”, quando não passa de uma escravo nas mãos destas
entidades que, se forem perversas (nem sempre o são, apesar de sempre ignorantes), farão este estado de
cegueira perdurar até o fim da vida do mesmo que servirá como verdadeiro
veículo para satisfação de seus prazeres...
É justamente por esta razão
que defendem seus médiuns com unhas e dentes, podendo mesmo agir com ferocidade
caso seus domínios sejam ameaçados. É por isso que não considero adequado
chamar essas entidades simplesmente de “obsessoras” ou “vampiras”, já que
costumam se ligar a um médium em particular e o defendem com unhas e dentes por
interesses próprios.
Até mesmo outros exus os
reconhecem como exus.
Agora, é muito importante
compreender o seguinte: Este tipo de exu NÃO SE MANIFESTA NA UMBANDA, pois a
Umbanda está profundamente ligada ao bem e não há espaço nela para nenhum
tipo de maldade.
EXU BATIZADO:
Todo exu é, necessariamente,
um espírito de ordem inferior. Não se segue que tenha sido mal na vida passada,
assassino, coisas do tipo. Mas, sem dúvida, é um espírito pouco evoluído.
Enquanto um “exu pagão” ainda
é dominado por suas paixões, quase sempre, agindo por impulso ou interesses
transitórios, o candidato a “exu batizado” já está em um outro nível.
Ele já compreendeu que o mal
não leva a lugar algum e está cansado de andar por aí dando “cabeçadas na
parede”. Como disse, pode não ter sido um criminoso, mas certamente não é uma
alma virtuosa.
Eis outra tendência comum na
Umbanda: a de querer santificar os exus, de conferir-lhes status de “guias”, de
“espíritos de luz” e isto também vai na contramão do que tenho aprendido...
Em algum momento, esses
espíritos que estavam por aí “sem eira nem beira”, terminam por conhecer alguma
entidade que esteja ligada à Umbanda que, percebendo a sequidão de alma destes,
acabam por convidá-los a conhecer a religião.
Como a Umbanda tem por
princípio não virar as costas a ninguém, oferece a estas entidades uma
oportunidade de trabalho, se elas realmente desejarem com bastante serventia aos trabalhos espirituais: o enfrentamento às trevas!
A princípio, ficam ressabiados.
Contudo, observando os benefícios a longo prazo, a alegria e a satisfação de
fazer o bem, acabam se convencendo que este é o melhor caminho (até por que não
haverá muitos espíritos dispostos a lhes oferecer uma mão amiga).
Quando aceitam o compromisso
de trabalho, iniciam-se como verdadeiros aprendizes, passando a “andar” com
entidades já batizadas que, gradativamente, vão lhes ensinando como trabalhar na
Umbanda e que atuarão como tutoras de sua jornada, aparando suas arestas e
direcionando seus caminhos.
Essas entidades, enquanto
aprendizes, costumam permanecer alguns anos atuando nos terreiros de Umbanda sem incorporar, apenas fazendo a
proteção e acompanhando os trabalhos sob a tutela de uma entidade mais
experiente, geralmente integrando um “bando de exus” ou, como costumamos dizer,
a falange protetora do terreiro.
Após esta fase de aprendizado
(que pode durar alguns anos), se persistir no propósito firme de fazer o bem e
de evoluir, lhe será conferido o grau de “exu batizado”, num ritual
geralmente feito por uma entidade “coroada” e cujos detalhes nunca soube de
forma precisa.
É após este ritual que esta
entidade ganha seu nome de falangeiro. Por exemplo: Se ela foi tutelada por um
Tranca-Ruas, passará a ser, também, um Tranca-Ruas, levando adiante o
aprendizado que recebeu.
Após o batismo, essas
entidades terão permissão de se manifestar através de um médium na Umbanda.
Portanto, na Umbanda, os exus são sempre batizados ou coroados e NUNCA PAGÃOS
e, embora ainda inferiores, trabalham unicamente para o bem e para a caridade.
Contudo, uma observação
importante:
Ao se incorporarem em seus
médiuns, essas entidades receberão toda a carga vibratória do mesmo ao passo
que incidirão suas próprias vibrações sobre o médium. Como são entidades que
ainda estão em fase inicial de sua jornada para o bem, costumam se manifestar, inicialmente,
de forma muito rude e até mesmo primitiva, cabendo extremo controle do médium e
rigorosa fiscalização dos cambones mais experientes a fim de que a entidade não
exagere em sua manifestação.
Aliás, essa é a principal
razão para que, em nossa casa, os trabalhos com os exus sejam fechados ao
público, servindo mais para descarrego do corpo mediúnico do que propriamente
para aconselhamento (embora saibam também aconselhar).
Ao cabo de alguns anos, dando
mais alguns passos na senda do progresso, suas manifestações serão mais suaves
e eles se mostrarão cada vez mais lúcidos de suas tarefas.
Estas entidades nunca
aceitariam fazer o mal, mesmo se um consulente pedisse insistentemente, pois se
recordam de onde vieram e tudo que passaram para chegar até ali.
O papel essencial destas
entidades é o de defender o médium e seus familiares dos ataques de espíritos
trevosos (obsessores, exus pagãos, etc), pois sabem que o médium que se propõe
a fazer o bem naturalmente atrairá a ira daqueles que não desejam o bem.
EXU COROADO:
Após uma longa jornada de
caridade que pode levar muitas décadas, a evolução espiritual chega para todos
que sinceramente se esforçam. Os exus que, inicialmente, se manifestavam de
forma muito primitiva, lutando consigo mesmos para se libertarem das tendências
inferiores, ao chegar neste estágio, alcançam um outro patamar.
Um “coroado” é um exu que
glorificou sua atuação, cumprindo-a exemplarmente, evoluindo em sua trajetória.
A coroação, neste caso, geralmente é feita por uma entidade da direita, um
preto-velho ou caboclo, que reconhecendo o trabalho e gigantesco esforço do “exu
batizado”, outorga-lhe esse grau, quando geralmente passa a ser chamado de
“chefe de bando”.
Se, inicialmente, a
manifestação de um “exu batizado” tende a ser grosseira a ponto de exigir muita
firmeza dos cambones para coibir exageros, a manifestação de um “coroado” é
perceptível de longe.
Neste estágio, o exu quase
sempre tem uma linguagem polida, educada, embora geralmente pouco falante (todos que conheci conversavam muito pouco), não xingam, fazem uso de pouquíssimos
elementos (se o fizerem) e, geralmente, só atuam eventualmente na incorporação.
Sua principal função é
gerenciar um pequeno grupo (bando) de entidades para cumprir uma tarefa.
Engana-se, porém, quem pense que essas entidades atuem apenas nos terreiros. Já
conversei com vários que me disseram atuar em delegacias de polícia, hospitais,
cemitérios e por aí vai.
*
Enfim, sei que tudo que
registrei até aqui vai na contramão do que se divulga na internet atualmente, mas este é o
aprendizado que tenho recebido das próprias entidades e que, certamente, poderá auxiliar
aqueles que se identificarem com essa maneira de pensar, ressaltando que não
desejo fazer doutrina para ninguém, apenas registrar a minha experiência,
vivência e aprendizado em terreiro...
E depois de coroado, o exu
vira um caboclo, um preto-velho?
Bem, isto deixo para uma outra
ocasião.
Leonardo Montes
Muito bom meu irmão, esclarecedor gratidão.
ResponderExcluirQue bom que gostou!
ResponderExcluirExcelente! Estou trabalhando com um exu que se apresentou como coroado, de fala polida, não bebe, não fuma, diz que trabalha somente com energias. Fico grata de encontrar seu texto, tão claro e preciso :)
ResponderExcluirGrato. Nos ajude, divulgando!
ResponderExcluirLeonardo Montes, eu e minha família somos apaixonados pelos seus áudios tão esclarecedores.
ResponderExcluirSua voz nos traz serenidade e clareza aos ensinamentos.
Quero parabenizar por esse blog e por seus esclarecimentos tão oportunos.
Que vc continue a receber essa inspiração divina que tanto nos alimenta a fome do saber.
Grato, Sheila. Fico feliz em saber!
ResponderExcluirSei pouco da umbanda. Por isso resolvi procurar esclarecimentos verdadeiros. Estou gostando dos seus conhecimentos e inspirações. Obrigado. Pelas minhas inspirações sei que seu terreiro é do bem. Que Jesus te proteja
ResponderExcluirGrato, Marlene. Só ressaltando que eu não pretendo falar em nome de uma "Umbanda verdadeira", mas apenas da Umbanda que tenho aprendido.
ResponderExcluirQUE OXALÁ TE ABENÇOE SEMPRE MEU IRMÃO PELAS CARIDADES PRESTADAS PARA A ESPIRITUA IDADE.
ResponderExcluirLeonardo eu nunca tinha lido sobre Exu, até o Médium Wanderley Soares de Oliveira, lançou o primeiro livro e eu o lí, ai depois eu li um do Rubens Saraceni. Resolvi começar pelo livro do Wanderley, pois ele é médium espírita. Atualmente não sei se ainda é espírita.
ResponderExcluirVocê conhece o livro do Wandereley sobre exu.
Que Livros você recomendaria pra quem não é médium ostensivo e conhece os espíritos tão somente pela literatura espírita? Como é o meu caso!
Desculpe a demora, só agora vi seu comentário. Infelizmente, a literatura de Umbanda é muito confusa, de modo que não recomendo nenhum livro pra aprender sobre isso, apenas o aprendizado em terreiro mesmo.
ExcluirShow! obrigado pelos ensinamentos
ResponderExcluirPor nada.
ExcluirSou espírita e não umbandista, mas respeito profundamente todas as bandas. Poucos vezes vi um texto tão lúcido como este falando dos Exus.
ResponderExcluirBom dia! Achei muito esclarecedor. Contudo, gostaria de que ajudasse a entender um ponto que ouvi uma Pomba-gira( ou Bombogira, como queira) firmar: " Ela atirou sua ponteira / Com sua seta de marfim/ Para confirmar os seus trabalhos/ Exu também é guia"
ResponderExcluirnfelizmente nao me recordo do livro que li e falava disso conforme sua abordagem..nao sei se era W.W da Matta e silva ou teologia de umbanda...eu li tanta coisa a respeito que nao me lembro. Mas sei que o que vc explica aqui eh real. Acho que existe um movimento(necessario) de desmistificacao da imagem de Exu destacando-se do demonio, e por isso vai caindo no outro extremo, o de bonzinho. Em algum momento no futuro as coisas ficarao nos seus devidos lugares.
ResponderExcluirIsso aí.
Excluir